Terra Santa completa 10 anos recuperando vidas
Comunidade Terapêutica superou desafios e conquistou reconhecimento regional
A Comunidade Terapêutica Terra Santa completou 10 anos do primeiro acolhimento que aconteceu em abril de 2011 e de lá para cá são 690 atendimentos realizados. Ao longo destes anos a sociedade civil, sem fins lucrativos, administrada pela Casa Assistencial Nosso Lar Amigos do Bem, consolidou-se e atualmente é considerada uma comunidade modelo na região no tratamento gratuito contra o consumo de álcool e outras drogas.
Ter uma comunidade como a Terra Santa funcionando em Colina é um privilégio não só para os acolhidos como também para o município, que foi inserido nas políticas públicas do Governo Estadual e passou a ser referência no tratamento da dependência química, uma das doenças mais frequentes da atualidade que continua destruindo vidas e famílias com reflexos em toda a sociedade.
Com a falta de recursos, que dependiam bastante de doações e da ajuda dos colinenses, foi bastante difícil manter a comunidade que desde o princípio funciona no prédio da antiga escola da Fazenda Monte Belo. A concessão de uso, ocorrida na administração do prefeito Mi, foi aprovada pela Câmara da época.
“Cada pessoa que fez parte do processo para instalação da Terra Santa foi muito importante para chegarmos até aqui. Houve momentos em que pensamos em desistir, mas a perseverança nos tornou mais fortes e conseguimos transpor cada um dos obstáculos para alcançar o reconhecimento que temos hoje”, declarou Renato Poliseli à reportagem que visitou a comunidade acompanhada por ele, o irmão Ângelo e a coordenadora geral Regina Andrade.
100% “RECOMEÇO”
Em 2014 tudo começou a mudar com a inclusão da Terra Santa no programa “Recomeço”, que financia comunidades terapêuticas em todo o Estado. Atualmente são 64 unidades operacionais e 1.377 vagas oferecidas, sendo que 30 delas são destinadas a Colina. “Até 2020 eram 20 vagas e conseguimos a ampliação para 30 que são disponibilizadas aos 18 municípios da nossa região administrativa. Essa inclusão foi uma grande conquista porque seria praticamente impossível cobrir os gastos, que são enormes e levantar os valores para manter os acolhidos dentro das exigências da lei”, explicou Regina que esclareceu, “todas vagas são pagas pelo projeto, independente da pessoa ser ou não carente. O Departamento Regional de Saúde (DRS V) e a Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas (Febract) fazem a regulação das vagas tendo exigência para maiores de 18 anos. O tratamento, exclusivo para homens, é totalmente voluntário e a Terra Santa recebe do Estado R$ 1,5 mil por vaga”.
Ela salientou que o valor recebido não dá para fazer tudo. “O gasto com cada acolhido gira em torno de R$ 2.350,00 a 2.400,00 mensais e ainda contamos com doações e a promoção de eventos em prol da comunidade. O próprio Estado também tem se esforçado para aumentar o valor da verba. Ficamos muito tempo recebendo R$ 1.350,00”.
Com o reconhecimento a direção da Casa Assistencial fez uma proposta em 2020 que foi aceita pelo programa que, além da ampliação de vagas, continuou enviando os recursos mesmo com a suspensão do acolhimento por conta da pandemia, que já foi retomado. “Com o dinheiro contratamos uma neuropsicopedagoga e iniciamos, no ano passado, uma ampla reforma e adequações nas instalações, que modificou e melhorou bastante toda a estrutura do prédio, que foi revitalizado e se tornou mais funcional. “Recebemos mensalmente o repasse para 30 acolhidos e graças a estes recursos fizemos várias melhorias como troca do assoalho por piso, reforma dos banheiros e da cozinha, revitalização de salas de atendimento, novo paisagismo, pintura externa e interna, entre muitas outras benfeitorias. O Programa Recomeço trouxe a oportunidade de pagar uma internet rural para atender somente os acolhidos que estão concluindo o Ensino Médio com as aulas on-line do EJA - Educação de Jovens Adultos”.
Por conta da pandemia a Terra Santa ficou 7 meses sem atendimento e depois deste período retomou o acolhimento no esquema de quarentena, seguindo orientação do governo estadual. A comunidade criou o “Recanto Esperança” em que os novos acolhidos que chegam, de dois em dois, ficam isolados dos demais por 15 dias.
LISTA DE ESPERA
As políticas públicas do município também são muito importantes no atendimento dos acolhidos que necessitam de médicos, dentistas e remédios. “Esse trabalho em rede, entre nós e o município, sempre deu muito certo e a prefeitura nos dá todo suporte necessário. Nestes últimos anos o trabalho realizado tornou a Terra Santa conhecida na região, tanto que recebemos ofícios de muitas cidades e temos uma lista de espera de 8 pessoas que querem fazer o tratamento aqui”, salientou a coordenadora.
Ela informou também que hoje dos 8 acolhidos 3 são de Colina. “A porta de entrada na maioria das comunidades terapêuticas é a área da saúde, mas em Colina tudo começa na Secretaria de Desenvolvimento Social, onde os interessados passam por uma triagem, são orientados a procurar a saúde para consulta, realização de exames antes do encaminhamento para o Departamento Regional de Saúde que canaliza o pedido”.
O tratamento varia de acordo com o acolhido e o projeto completo é de até 6 meses (180 dias) já que só para desintoxicação completa do corpo são necessários dois meses. No quarto mês o acolhido tem a primeira saída de reintegração onde permanece uma semana com a família. O tratamento máximo é de 9 meses e a prorrogação é muito bem estudada para evitar institucionalização. Tem várias atividades durante o dia com os profissionais, momentos de descanso, discussão para reflexão e a noite é livre. O toque de recolhimento é às 22h30. As visitas durante a pandemia estão proibidas. Uma das metas para este ano é firmar parcerias com empresas para oferecer oportunidade de emprego e cursos de qualificação para os atendidos que precisam construir uma vida do lado de fora da comunidade, que é muito importante para a reabilitação.
EQUIPE DE REFERÊNCIA
Um dos maiores avanços dos últimos anos são os 11 profissionais contratados que passam por capacitações constantes. “Temos mais que uma equipe mínima com duas psicólogas, assistente social, neuropsicopedagoga, 2 sócios-educadores durante o dia e mais os monitores que trabalham em horários alternativos. Todo trabalho terapêutico é feito para se conscientizarem do que deve ser evitado quando saírem daqui para prevenção da recaída”, ressaltou a coordenadora Regina Andrade que por causa do reconhecimento da Terra Santa aceitou compor o Conselho Deliberativo da Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas como membro, atuando na tomada de decisões.
DEPOIMENTOS
Eliana Borges, coordenadora estadual de políticas sobre drogas do Estado, definiu a Terra Santa da seguinte forma: “É uma das nossas parceiras e vem se destacando devido a uma metodologia que intervém para além das questões puramente de dependência química, o olhar é o indivíduo em sua integridade e como este se posiciona na sociedade e como sente os problemas sociais e emocionais a que está envolvido. É uma organização que tem feito muitos investimentos na estrutura física, contratação de equipe técnica especializada e parcerias locais para ofertar o melhor atendimento aos acolhidos. A Terra Santa, sem dúvida, é uma importante parceria do Programa Recomeço em Colina e toda a região de Barretos pelos resultados de seu trabalho. Em nome do Governo de São Paulo, agradecemos pela longa e benéfica parceria de cuidado gratuito às pessoas com problemas devido ao uso de álcool e outras drogas”.
“A Terra Santa cumpre um papel fundamental no apoio, acolhimento, cuidados e reinserção social dos dependentes químicos, ofertando um serviço de alta qualidade que o próprio Poder Público muitas vezes não consegue garantir”, declarou Lucas Roncati Guirado, gerente da Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas (Febract), com sede em Campinas, a qual a comunidade colinense está filiada desde 2015.
“Reconhecemos a importância do trabalho desenvolvido pela Comunidade Terra Santa para o nosso município, cumprindo com sua função de auxiliar homens com dependência e de intermediar o apoio às suas famílias. A Administração possui uma parceria com a entidade, que disponibiliza o atendimento de 10 vagas. Quero parabenizar e agradecer as entidades: Terra Santa e Casa Assistencial Nosso Lar Amigos do Bem pelos serviços prestados junto à população de Colina, cada uma na sua área, reforçando que a prefeitura é colaboradora e parceira”, destacou o prefeito Dieb que enalteceu o relevante trabalho da comunidade que atua no auxílio de homens com dependência química e de álcool, atendendo Colina e região.
Ângelo, Regina e Renato na entrada da comunidade que neste ano está completando 10 anos de atividades.
Dirigentes da Terra Santa com alguns dos profissionais que compõem a equipe técnica de referência.
Fachada da Comunidade Terapêutica Terra Santa que está instalada, desde a sua fundação, na antiga escola da Fazenda Monte Belo.
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