É difícil acreditar que a película que envolve o grão de milho seja capaz de causar tanta dor de cabeça, mas é o que está tirando o sossego dos moradores dos bairros Nova Colina, São Sebastião e redondezas.
O problema começou na safra do ano passado, quando a Cargill Agrícola, unidade armazenadora de grãos que margeia a Rodovia Antônio Bruno, começou a secar o milho a céu aberto. Com a ajuda dos ventos, típicos desta época, as partículas começaram a cair nas casas, incomodando a população.
O aposentado José Fermino Neves “Zoinho”, que mora no bairro São Sebastião, próximo à Cargill, conta que o pó fino entra por qualquer fresta da casa, gruda na roupa do varal e causa grande irritação para quem tem alergia ou problemas respiratórios, que é o caso da esposa.
“Numa época de estiagem como essa somos obrigados a conviver com esse pó, isso não é justo! Não adianta usar vassoura porque as partículas se espalham mais, é preciso jogar água várias vezes ao dia”, desabafou Neves, que está indignado. “A conta de água aumentou porque temos que limpar o quintal com mais frequência, sem contar os gastos na farmácia por conta da compra de medicamentos para combater coceira, irritação nos olhos, alergias, etc”.
A reclamação é geral e os moradores dos bairros próximos não sabem mais o que fazer. “Temos que lutar pelos nossos direitos, mas confesso que já estou cansado. Liguei diversas vezes para a empresa na esperança de resolverem o problema e nada, inclusive procurei a Vigilância Sanitária e até a Cetesb em São Paulo mas, até agora, nada foi feito e o problema persiste”.
CARGILL TOMA PROVIDÊNCIAS
A reportagem procurou a Cargill, que nos colocou em contato com o departamento de comunicação em São Paulo. A empresa explicou que está adotando medidas para resolver a emissão de partículas de milho na unidade em Colina.
“A empresa já apresentou projeto, de conhecimento da Vigilância Sanitária de Colina, para instalar exaustores e filtros especiais para resolver a questão. O prazo para implementação desse sistema é de 120 dias, período necessário para produzir e instalar o equipamento”, explicou Vinícius Riqueto de Oliveira, do departamento de assuntos corporativos da Cargill em São Paulo. Acrescentou, “como medida imediata estamos irrigando com água a saída do atual secador de milho de modo a reduzir a emissão de partículas. Paralelamente também estão sendo estudadas alternativas logísticas para otimizar o recebimento da produção de milho da região até o final dessa safra”.
EMPRESA TEM PRAZO PARA RESOLVER O PROBLEMA
O diretor da Vigilância Sanitária, Leandro Boca, informou à reportagem que José Fermino registrou reclamação no órgão desde o ano passado.
“A Vigilância constatou o problema e manteve contato com a empresa no ano passado, quando foi tomada uma medida paleativa. Este ano já foi elaborado um Auto de Infração. A empresa recorreu apresentando um projeto para equipar o local com a instalação de ciclo filtragem. Eles solicitaram 120 dias para instalar o equipamento que, segundo eles, está orçado em 130 mil reais”, informou Boca. Ele também explicou que, “a eficácia do equipamento só será testada no próximo ano, já que a safra do milho está terminando. Caso não resolva o problema, a empresa será multada, com valor superior ao custo do equipamento e pode ter cassada a licença de operação”.
O diretor confirmou que a película do milho, de fato, suja toda região próxima à empresa, de acordo com a intensidade do vento.
Unidade da Cargill, que vem sendo alvo das reclamaçoes.