Barbeiro: profissão secular que resiste à modernidade
Adão faz a barba de seu fiel freguês Luiz Lemos de Toledo Filho que, diariamente, vai à barbearia.
Muitas profissões deixaram de existir com os avanços da modernidade e deram lugar a revolução tecnológica que ganhou novo fôlego com o advento da internet, uma ferramenta indispensável da vida contemporânea que permitiu que muitos problemas sejam resolvidos na frente do computador, sem precisarmos sairmos do lugar.
A facilidade do mundo moderno é mesmo surpreendente, mas há hábitos que são difíceis de serem substituídos porque passam de uma geração para outra. É algo que está tão presente no cotidiano que passa a fazer parte da vida das pessoas, principalmente de cidades pequenas como a nossa.
Mas isso tudo é apenas a introdução desta matéria que na verdade vai contar um pouco sobre o barbeiro mais antigo da cidade que, apesar de toda a parafernália moderna, continua a exercer seu ofício do mesmo modo que aprendeu há mais de 50 anos e usa a mesma cadeira desde que conseguiu montar o seu próprio negócio.
O entrevistado é o barbeiro Adão Gomes, 66 anos, que é uma prova que esta profissão secular resiste ao tempo. Se depender da sua clientela então, a barbearia não vai fechar nunca, apesar da revolução dos aparelhos de barbear.
O simpático barbeiro, que também é amante da pescaria, recebeu à reportagem e a entrevista foi feita enquanto trabalhava.
“Como antigamente não tinha curso aprendi o ofício na barbearia que trabalhava”, contou ele que iniciou na profissão em 1961, quando tinha apenas 14 anos. “Não quis estudar e meu pai me deu duas opções, tornar-me barbeiro ou mecânico, acho que fiz a escolha certa”.
Depois dos 5 anos de experiência cortando cabelo e fazendo a barba da clientela do patrão, surgiu uma oportunidade e Adão conseguiu começar o negócio por conta própria.
“Hoje são poucas pessoas que tem bigode, mas ainda aparecem alguns para a gente aparar. Fregueses de longa data, que já não estão entre nós, vinham na barbearia acompanhados pelos filhos que, quando adultos, tornaram-se meus clientes. O tempo não passou na barbearia, que continua do mesmo jeito. As lâminas da navalha tem que ser trocadas a cada cliente por uma questão de higiene”, conta Adão.
FAZER EM CASA NÃO FICA IGUAL
O cliente mais fiel, sem dúvida, é o produtor rural Luiz Lemos de Toledo Filho que todos os dias vai fazer a barba na barbearia. “A minha barba cresce muito rápido, já tentei fazer em casa e não fica igual. Então prefiro vir aqui todos os dias. A barba que ele faz fica perfeita e é muito raro acontecer algum corte”, disse o cliente. Adão explicou que fazer a barba precisa de técnica e uma boa lâmina.
“PARALAMAS DO SUCESSO”
O barbeiro faz o serviço do mesmo jeito que aprendeu e seus clientes são fiéis, como Evandro Dias de Andrade que todo mês, desde 1976, aparece para dar um corte no “paralamas do sucesso”, apelido dado pelo próprio barbeiro por causa dele ter cabelo somente dos lados.
Uma vez por semana, às segundas-feiras, ele vai na casa dos clientes que não podem se locomover até a barbearia, como é o caso do senhor Luiz Dezolt e outros tantos. “No ano passado tive uma enfermidade que me afastou do salão por um bom tempo, nem acredito que estou de volta. Me sinto feliz por fazer o que sei e gosto de fazer”, disse o barbeiro que já está aposentado há alguns anos, mas não pensa em largar a tesoura e a navalha.
“Vou parar só quando não conseguir mais trabalhar. Esse ofício vai me acompanhar até o fim. Até lá ainda tenho muitos cabelos para cortar, muitas barbas para fazer e muitos ‘causos’ para ouvir e contar”, finalizou Adão que sempre trabalhou na Rua 7 de Setembro e há mais de 13 anos conseguiu ter o próprio salão.
Postado em 22/02/2014
Por: A Redação