Encontro foi enriquecido com fatos que fazem parte da história de Colina
O prédio da antiga estação, que há muito tempo tem abrigado personagens nada pitorescos, voltou a receber pessoas que querem ver o espaço revitalizado antes que este patrimônio histórico da cidade se deteriore pela ação do tempo e o esquecimento.
O grupo “Amigos da Estação” reuniu-se novamente na manhã de domingo, 25, desta vez com as portas do Museu abertas e o mato em frente ao prédio cortado. O público foi recebido ao som da música “Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa, um dos hinos do movimento que emocionou alguns dos participantes que reviveram os tempos em que o trem cortava a cidade, embalando o progresso do vilarejo que ainda nem sonhava em se tornar comarca.
Os integrantes da Associação de Bebedouro novamente se fizeram presentes e realizaram diversos passeios com a motolinha, que chamou a atenção com o apito semelhante ao do trem. O passeio ia da estação até a passagem em nível próxima ao cemitério. O único trajeto possível a ser feito já que não existem mais trilhos de Colina a Bebedouro. No sentido oposto, com destino a Barretos, não há condições de trafegar em segurança.
O movimento tem ganhado força e adesão de novos simpatizantes, que partilham do mesmo ideal e querem ver de volta o trem fazendo parte do cenário, promovendo o lazer, incentivando o turismo rural e enriquecendo a história cultural de Colina.
Na reunião foi aprovado o nome do grupo “Amigos da Estação”, movimento que começou nas redes sociais e que, a partir de agora, vai denominar-se Associação Amigos da Estação e Memória Ferroviária de Colina.
ASSEMBLÉIA DE FUNDAÇÃO DEFINIDA
O próximo passo será a publicação de um edital de convocação de pessoas interessadas na fundação e designar a comissão para elaborar o estatuto social da nova entidade para que o mesmo possa ser discutido e aprovado pela assembleia de fundação, que será realizada no dia 7 de fevereiro, às 17h, na estação. Na sequência, a existência da Associação, sem fins lucrativos, precisa ser registrada em cartório.
“O objetivo é colaborar com a administração pública para o bem da comunidade. Precisamos ter amor ao patrimônio público. Queremos ver toda sociedade envolvida para que o eco deste grande clamor seja a força para concretizá-lo. Temos que ser donos do espaço onde vivemos, é preciso ter atitude”, disse o professor Renato Molleiro, um dos idealizadores do movimento ao lado da professora Maria Dalila Prado Silveira.
Após a elaboração de um plano de ação para viabilizar a ideia, a Associação vai firmar parcerias, manter contato com autoridades e lideranças de vários segmentos da sociedade para buscar apoio.
UM POVO SEM MEMÓRIA NÃO TEM HISTÓRIA
O encontro foi enriquecido com o relato de alguns participantes, como Eugênio Donini Júnior que é profundo conhecedor da história de Colina. Ao fazer uso da palavra ele contou que o trem chegou à cidade porque o fazendeiro Coronel José Venâncio Dias, que doou a faixa de terras à Cia. Paulista de Estrada de Ferro para a construção da ferrovia, queria ouvir do alpendre da sua casa o apito do trem.
Outra curiosidade, mencionada pelo aposentado, foi sobre um erro de engenharia que fez Colina crescer para o lado de baixo e não para cima. “Colina tem esse nome, mas na verdade está num buraco. Tudo isso aconteceu porque a estação foi construída no lugar errado, que a fez progredir para baixo”, contou.
Ele também revelou que, “quando o primeiro grupo escolar de Colina, fundado pelos irmãos Dadadi e Tivico, começou a funcionar os trilhos já estavam aqui. Havia bastante trem de carga, principalmente para transporte de gado, o que obrigava os alunos atravessarem a linha férrea para chegar à escola”. Acrescentou, “foi feita uma campanha muito grande, através do jornal O COLINENSE, que teve um papel fantástico para conseguir a vinda de uma ponte de origem inglesa, que mais tarde recebeu o nome de Alice Dias. Depois de muita batalha a ponte chegou e foi fixada sobre os trilhos em maio de 1936. Só existem dois modelos iguais no Brasil, uma está aqui e é um dos nossos cartões postais”.
O contabilista Napoleão Jorge também usou a palavra e comparou a Associação a uma castanheira, “só que esta não demorará tanto tempo para dar frutos”. Ele também ficou muito triste ao perceber o sumiço da placa de ferro fundido que ficava na plataforma de embarque e desembarque da estação. “A placa que ficava aqui também veio da Inglaterra e trazia a altitude de Colina em relação ao nível do mar e a quilometragem daqui até São Paulo. Quem sabe fundiremos outra”.
Histórias como essa não podem se perder com o tempo e precisam ser revividas em encontros que envolvam a comunidade e a classe estudantil, que também precisa ter interesse pela história da cidade onde vive. Com a criação da Associação isso, com certeza, ficará mais fácil de acontecer.
Participantes e simpatizantes do movimento na plataforma da estação na manhã de domingo.
A placa que sumiu com as informações referentes a latitude de Colina e distância até a capital e a altitude da Colina em relação ao nível do mar.
A placa de ferro fundido sumiu da plataforma da estação, onde só restou a marca na parede citada por Napoleão Jorge.
Motolinha com os integrantes da Associação Bebedourense no momento da chegada à estação.
Os participantes do encontro preparam-se para os passeios sobre os trilhos.
Professores Renato e Dalila idealizadores do projeto durante pronunciamento.
O grupo na entrada do prédio da antiga estação.
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