Operador cinematográfico e suas histórias no Cine Colina
A tecnologia avança a passos largos e a cada dia surgem novos softwares, que estremecem o mundo da tecnologia e todo mundo quer ter em casa a “novidade” do momento.
Da chegada do homem na lua até hoje a humanidade evoluiu de uma forma estrondosa. Ninguém imaginaria, há alguns anos, que a internet revolucionaria o mundo e que com um simples toque de dedos, na tela do computador, teríamos acesso a uma fonte inesgotável de informação, vinda de qualquer parte do globo terrestre.
A evolução tecnológica é muito boa, mas existe o outro lado da moeda que deve ser colocado em questão. Muitas profissões estão desaparecendo porque a mão-de-obra está sendo substituída pela tecnologia digital.
Essa a história de Gildazio Leal “Baiano”, de 67 anos, que viu sua profissão acabar com a chegada da televisão. Por mais de 20 anos foi operador cinematográfico do “Cine Colina”, que era o auge do entretenimento da cidade nas décadas de 60 e 70.
Gildazio, hoje aposentado, começou a trabalhar no cinema em meados de 1960, com 14 anos. Passou pelo serviço de limpeza, foi lanterninha até chegar a operar o equipamento que projetava as imagens na grande tela.
Empolgado pelo antigo ofício, com o qual tem sonhos até hoje, ele conta que os rolos eram alugados e vinham de trem de São Paulo ou Ribeirão. “Os rolos, com duração de cerca de 20 minutos, tinham que ser trocados várias vezes durante a seção. O filme com maior duração e também com o maior número de rolos, 11 no total, foi ‘Os 10 Mandamentos”, recorda “Baiano, que completou: “todo dia chegava filme novo na estação e ia buscá-los de carriola. No caminho todo mundo perguntava qual filme tinha chegado”.
O maior número de seções acontecia aos domingos, iniciando com as famosas matinês. “Naquela época a queda de energia era frequente.
Quantas vezes a projeção foi interrompida por causa disso e quantas outras escutei os espectadores reclamarem”.
Ele recorda o nome de filmes memoráveis, que ficaram guardados na memória, como “Ben Hur”, “Sete Homens e Um Destino”, “Guerra e Paz”, “Imitação da Vida”, “Spartacus”, entre vários outros. “Uma cena que nunca esqueci aconteceu na exibição de ‘O Seminarista’, quando acendi as luzes todo mundo estava chorando, inclusive eu”.
Nos anos 60 as seções eram sempre lotadas, mas com o passar dos anos o público foi diminuindo até acabar. “O cinema se tornou um negócio inviável, que pouco a pouco foi sendo substituído pela televisão. O público foi caindo até o cinema falir em 1989”.
O aposentado disse não ter saudades desse tempo porque não tinha ninguém para substitui-lo. “Era um ofício que me deixava muito preso, não tinha final de semana e nem feriado. Perdi a conta de quantos natais passei no cinema, exibindo filme para quem ia se divertir”. Mas o cinema também traz boas recordações, foi em uma das sessões, em 1968, que ele conheceu a esposa Zulmerinda, com quem tem 4 filhos e está casado há 43 anos.
O cinema teve vários donos, Benedito Moraes, Lupercio Nogueira e Yassin El Droubi foram um dos citados por Gildazio durante a entrevista que aconteceu em sua casa na Av. Moacyr Vizzoto.
Hoje os equipamentos de projeção modernos não precisam de operador. O equipamento é programado e a exibição é feita automaticamente. A pirataria, que injeta no mercado produtos com preços populares, bem abaixo do original, também contribuiu para o fechamento de muitas salas em todo o país, principalmente de cidades pequenas que não aguentaram a desleal concorrência e fecharam as portas, como Colina. O projetor é uma relíquia que está em uma das salas do antigo prédio da estação ferroviária.
Gildázio “Baiano, em sua casa, contou à reportagem detalhes da extinta profissão.
Cine Colina que encantou gerações com suas exibições.
Postado em 20/04/2012
Por: A Redação