Adolescente morre atropelado quando retornava do réveillon no lago
Família faz críticas à polícia que só compareceu no Pronto Socorro horas depois, quando a vítima já estava em Barretos
Elaine da Silva mostra o celular com a foto do filho que foi atropelado e morreu.
A virada do ano acabou em tragédia para a família do adolescente Luiz Fernando da Silva Ferreira dos Santos, de 15 anos, que nos primeiros minutos de 2018 foi atropelado na Av. Cel. Antenor Junqueira Franco, a poucos metros da prefeitura.
Era a primeira vez que o estudante assistia a queima de fogos no Parque Débora Paro. A mãe Elaine da Silva contou à reportagem que nunca deixou, mas como o filho tinha vontade permitiu que ele fosse acompanhado de uma amiga, maior de idade, que é vizinha da família e levou ele e os colegas de carro.
O adolescente retornava a pé para casa, no Nosso Teto, na companhia dos amigos e, por volta da 00h50, ele caminhava bem próximo ao canteiro da avenida (próximo ao Bar do Pessim) quando foi atropelado por um carro vermelho, de Jaborandi. O motorista fugiu sem prestar socorro à vítima que ficou caída inerte no asfalto molhado, já que garoava no momento do acidente. Com o impacto o corpo de Luiz Fernando foi arremessado para frente e ao cair no chão sofreu traumatismo craniano e vários ferimentos graves. Segundo testemunhas, o veículo trafegava a cerca de 80 km/h no momento do acidente.
O prefeito Dieb Taha que se encontrava na casa da mãe, que reside nas proximidades, para a passagem de ano presenciou o atropelamento e imediatamente socorreu o estudante juntamente com o irmão, o médico Mohamed Taha que inclusive o acompanhou na ambulância até o P.S., onde aconteceu o primeiro atendimento e em seguida a tranferência para a Santa Casa de Barretos.
Elaine foi avisada do acidente pela mãe e já foi direto para Barretos. “O Luiz Fernando foi atendido na UTI de emergência, onde foram feitos todos exames para avaliar as condições dele. Na quarta-feira, dia do falecimento, foi feita uma última avaliação que não deu nenhuma esperança porque meu filho já estava com morte cerebral e só estavam esperando o coração dele parar de bater”, informou a mãe.
PM NÃO ATENDEU LIGAÇÕES FEITAS PELO PREFEITO
“O que me revolta ainda mais é que além do motorista fugir o prefeito ligou inúmeras vezes para a polícia que só foi aparecer no Pronto Socorro horas depois, quando o meu filho já estava em Barretos há muito tempo”.
Ela também declara que, “em nenhum momento fui procurada pela Polícia Militar e Civil e com o falecimento precisava apresentar o boletim de ocorrência na Santa Casa, que não foi encontrado o que me obrigou a fazer outra ocorrência em Barretos. Na noite do atropelamento só tinha uma viatura em serviço que estava atendendo uma outra ocorrência. O que significa que estamos desamparados porque se há duas ocorrências só dá para atender uma? Não adianta pagar impostos se não termos direito quando mais precisamos”.
A reportagem procurou o sargento Eder, comandante do Grupamento da PM, que informou que na virada do ano existe uma grande demanda de atendimentos por conta dos excessos e que no momento do atropelamento a viatura estava na rodovia Renê Vaz de Almeida, atendendo um capotamento e que após o término, às 03h40, os policiais foram ao Pronto Socorro para elaborar o B.O.
A delegada Denise Polizelli disse que as testemunhas estão sendo ouvidas, inclusive o autor do atropelamento que se apresentou na delegacia na quinta-feira, após o sepultamento do adolescente. Ela relatou ainda que a investigação está em curso, que há muitos pontos a serem esclarecidos e que não vai comentar o inquérito policial já instaurado, que está em andamento.
“O SONHO DELE ERA TIRAR A GENTE DO ALUGUEL”
“A pancada foi extremamente forte e tudo aconteceu muito rápido. Meu filho era um menino amoroso, não tinha maldade, era muito querido por todos e nunca me deu trabalho. Jamais pensei enfrentar um sofrimento destes”, desabafou a mãe que salientou, “ele estava cheio de planos para o futuro, queria juntar dinheiro para tirar a carteira de habilitação e sempre falava que um dia compraria uma casa para nos tirar do aluguel. Ele estudava de manhã e trabalhava à tarde, era caseiro e a única distração era jogar bola. Sempre me ajudou bastante e agora estou desorientada sem ele”.
“Meu único desejo é que seja feita justiça e vou lutar para que isso aconteça porque o autor do atropelamento tem que pagar, em vida, pelo que fez. Quero encontrá-lo para olhar nos olhos dele e saber por que fez isso com meu filho. O que estou sentindo não desejo pra ninguém, nem pra ele porque é uma dor terrível, mas preciso de respostas. Tinha tanto espaço na rua para ele passar, não precisava atropelar o Luiz Fernando. Ele não buzinou, não fez nada, apenas jogou o carro nele e fugiu”. Acrescentou, “ele acabou com meus sonhos e planos porque o Luiz Fernando era meu tudo, minha esperança. Nossa família está desesperada porque ele pôs fim a vida de uma família inteira”.
REVOLTA SERIA MENOR COM SOCORRO
A mãe também explicou que a revolta seria menor se o motorista tivesse socorrido o filho. “Claro que a dor da perda seria a mesma, mas o socorro representa compaixão e amor ao próximo, o que o Luiz Fernando não teve. Ele atropelou uma pessoa, não foi um vulto como declarou por aí. Ele tirou um pedaço de mim, sei que tenho que ser forte porque tenho mais dois filhos, mas a morte dele não vai ficar assim. Essa dor que sinto não desejo para nenhuma mãe”. Elaine também agradeceu tudo que o prefeito e a família fizeram e continuam fazendo por eles.
Luiz Fernando tinha concluído o Ensino Fundamental na EMEF “Lamounier de Andrade” e iria cursar o Ensino Médico neste ano, na EE “Prof. Darcy Silveira Vaz”. Ele era o filho mais velho de três irmãos, Willian de 12 anos e Fabrício que tem 10. O sepultamento, ocorrido na manhã de quinta-feira, dia 4, foi acompanhado por centenas de pessoas, inclusive as professoras, diretora e colegas de escola.
ADVOGADO ALEGA QUE MOTORISTA NÃO VIU A VÍTIMA
O advogado Ronan Sales Cardozo está fazendo a defesa do motorista de Jaborandi que causou o atropelamento. Ele se apresentou com o mesmo na delegacia na quinta-feira, dia 4. Segundo ele, o condutor estava indo até a Vila Guarnieri buscar a esposa que estava confraternizando com a tia. Ronan declarou à reportagem que o motorista não viu o adolescente. “Ele percebeu um impacto no carro e achou se tratar de algum objeto lançado no para-brisa para provocar um assalto e devido a isso não parou. Ele ficou assustado e acabou não indo ao destino. Ao tentar retornar para Jaborandi bateu o carro na guia, próximo à Ponte Alice Dias. O carro teve problemas e então ele pediu ajuda aos familiares para rebocar e retornar a Jaborandi”. Disse também que só ficou sabendo do atropelamento pelas redes sociais e então procurou pelo advogado na tarde do dia 1º bastante abalado.
O advogado informou que o motorista não ingeriu bebida alcoólica, pois encontra-se em tratamento de saúde. A Polícia Técnica esteve na casa do motorista onde foi feito a perícia no veículo. “Ele trafegava a cerca de 50 a 60 km/h, velocidade permitida para a via. Portanto, não deve se falar em homicídio culposo e sim omissão de socorro, porém não consciente, já que ele não percebeu tratar-se de um atropelamento”, finalizou o advogado.
O inquérito deve ser concluído em breve e em seguida será remetido ao Ministério Público.
Trecho da avenida onde ocorreu o atropelamento que matou o adolescente Luiz Fernando (no destaque).
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