JOÃO CALDEIRA: Uma Homenagem Colinense

Por: Marília M. Vizzotto

Em dezembro último (2017) perdemos uma importante figura da comunidade colinense: Sr. João Caldeira, aos 87 anos de idade. A história do Sr. João Caldeira confunde-se com uma boa parte da própria história de Colina, pois foi aqui, nessa cidade, que se casou, construiu sua família  e sua vida. Foi comerciante por longos anos, agricultor/pecuarista e teve uma participação política ativa no município.

A trajetória e a Família

O jovem João, filho de imigrantes portugueses, nascido em Andradina, S.P., chegou a Colina por volta da década de quarenta (do século XX) e aqui se estabeleceu. Entre suas histórias e “estórias”, gostava de contar que fora boiadeiro, que laçou muitos bois e tocou muita boiada por essas bandas.

Ao final da década de quarenta e meados dos anos cinqüenta, embora vivêssemos as conseqüências da 2ª. grande guerra, em Colina ainda se podia avistar um panorama bucólico ou, “quase bucólico”. Digo “quase”, pois ao tomarmos o Jornal “O Colinense” em abril 1950 (ano XXVII, nº. 573), em sua primeira página figura uma matéria divinamente intitulada “Dendroclastia” e que já, naquela época, fazia um apelo àquele que maltrata ou que não tem respeito pelas árvores, buscando, pois, o artigo assinado pelo Sr. Napoleão Jorge, fazer uma crítica à destruição do natural ao mesmo tempo em que enaltecia a beleza e os benefícios de uma atmosfera fresca e purificada. Mas, na mesma edição, o jornal anunciava uma quermesse (nos dias 15 a 23 de abril) “pró aquisição de um gabinete dentário para o Grupo Escolar Cel. José Venâncio Dias”, observando-se uma comissão composta por um grande número de pessoas para cada dia, de modo a envolver praticamente toda comunidade. Lia-se ainda, nessa edição, a publicação de destinação de verba da Câmara Municipal para construção do “Clube Colina Atlético” e ainda a publicação do balancete do mês de março (receita/despesas) do município, assinado pelo prefeito Dr. Alcides Correa Arruda em que se observava o saldo positivo depositado na Caixa Econômica Estadual. Bons tempos!

Ainda é doce observar, nessa mesma edição, os anúncios publicados pelos comerciantes locais, como: “Folhinhas para 1951: façam seus pedidos – Gráfica Irmãos Ferreira”; Para limpeza intestinal: Pílulas Bristol – o purgante caseiro por excelência”;“A Americana: móveis e colchões de Molas, preços módicos, seriedade absoluta”; “Cine Teatro Santa Helena anuncia o filme: O Tempo não Apaga”; entre outros anúncios que demonstravam simplicidade e até mesmo ingenuidade.

Foi num cenário como esse que o jovem João travou amizade com as famílias Paro da fazenda Monte Belo, passou a freqüentar os eventos sociais, as fervilhantes quermesses e entusiasmadas festas nas ricas fazendas da região e conheceu sua futura esposa, a jovem Ilidia Paro Bolpetti, com quem se casou em 1951. Caldeira teve uma vida enriquecida por sua unida família, pois casado por mais de 50 anos com a Srª. Ilidia, teve 04 filhos: João Luis, Edson, Paulo Roberto e Sandra Maria; teve 10 netos, 4 bisnetos e deixou 2 bisnetos a caminho. Demonstrava muito orgulho ao se referir aos filhos, aos netos e seus olhos brilhavam ao dizer que já tinha bisnetos; e como ele mesmo me dizia: - “Essa é a minha riqueza!”

A Participação Política

João Caldeira não se limitou a ser um comerciante, ou proprietário de fazenda pois, ele vivia e respirava a cidade de Colina e, entre suas funções e papéis sociais, estevetambém a de um político. De 1964 a 1968, ocupou o cargo de vice- prefeito na administração João Ademar Paro. A dupla venceu as eleições naquele ano em fervorosa disputa com Dr. Fernando Viana e Dr. Moacyr Vizzotto. Nessa gestão Caldeira assumiu por duas vezes (em 1966 e em 1968) o cargo de “prefeito em exercício” em substituição a dois afastamentos do prefeito. Em sua gestão destacam-se principalmente a ampliação de redes elétricas e rede de esgoto na cidade e a Biblioteca Municipal; teve ainda grande participação, junto com sua esposa e com professora Leila Paro, no “Clube das Mãezinhas”, com a ideia preventiva de evitar crianças nas ruas.

Foi também nessa época que assumiu o cargo de presidente do Clube “Colina Atlético” (em 1966), em companhia de seu vice – presidente, Sr. Ernesto Paro.

Sr. João: um amigo, um educador

Entre suas histórias e “estórias”, sempre era muito agradável estar na casa dos Caldeira, almoçar, tomar um “vinhozinho” do Porto e conversar com Sr João. Falávamos principalmente de plantas e de nossa paixão por Portugal – ele por ser descendente, por ter tido a oportunidade de conhecer suas origens e eu por ter vivido no Algarve. Aprendi muito com ele; com suas histórias, estórias e experiências.

 Assim, numa analogia com a obra de Akira Kurosawa -“Madadayo” que se trata de umabela metáfora do caminho para a morte, em que o autor coloca a vida e a morte como uma brincadeira de criança num jogo de pega-pega que diz repetidamente: madadayo! (ainda não!), faço das palavras a seguir aquelas de todos nós – amigos, familiares, colegas: “(....)   o velho professor vive como um jovem que envelhece sem perceber, sem  perder o senso de humor” .

Somos gratos ao nosso amigo João; aquele que, além de seus legados, deixa-nos imensa saudade!


Postado em 24/03/2018
Por: A Redação
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