“Não demore para fazer o bem, as pessoas precisam de ajuda”, diz Dona Ana
Dona Ana e a amiga Hilda fazem pão diariamente para as famílias do bairro.
O nome Ana vem do original em hebraico Hannah, mais tarde do larim Anna, que quer dizer “graciosa, misericordiosa, cheia de graça”. Esse bonito nome reflete o sentido de dádiva ou oferta”. Este é um breve resumo do significado do nome Ana e tem muito haver com a personagem da reportagem a seguir Ana Pereira da Silva, de 70 anos, que nunca teve uma vida fácil. Os obstáculos do caminho jamais a impediram de fazer o bem. Pessoas como ela, que já nascem com esse dom, fazem a diferença na vida dos semelhantes. Nos bairros Nosso Teto e Vila Guarnieri a senhora, de 70 anos, é conhecida como “vó” e “mãe” por todo mundo, principalmente por aqueles que desfrutam de sua generosidade diariamente.
A bondosa senhora foi uma das 10 mulheres homenageadas pelo Rotary. A reportagem esteve com ela para saber mais sobre sua trajetória, sempre ligada à caridade. A história dela começou com a separação de todos os 13 irmãos que nasceram em Penápolis/SP. Cada um foi adotado por famílias diferentes e nunca mais ela soube do paradeiro de nenhum deles.
Para fugir da violência de Santo André, na grande São Paulo onde morava, mudou-se para cá com os filhos adolescentes e o companheiro, que tinha família por aqui. Isso aconteceu há 40 anos e jamais se arrependeu da escolha que fez. “Lá na capital já fazia sopa para os mais necessitados com as sobras da feira. Quando cheguei precisava de emprego e trabalhei na roça. Logo me engajei no movimento para construção da Casa Assistencial, idealizada por um grupo de pessoas. Passei 12 anos morando e trabalhando na entidade. Como na época não havia Casa de Abrigo cuidava das crianças e quando me mudei para a Rua 7 da Vila Guarnieri, onde vivo até hoje, continuei como voluntária. Além dos meus 5 filhos biológicos, criei mais 17 adotivos. Os maiores acabavam ficando porque as pessoas preferiam os menores para adotar”, revelou.
EU “ROUBAVA” CRIANÇA MALTRATADA PELOS PAIS
Entre as várias histórias Dona Ana contou que “roubava” crianças maltratadas pelos pais. “Eu ainda era nova e aqui em Colina não existia a Casa de Abrigo. Então fiquei sabendo que um menino, filho de um casal de usuários de drogas, estava vivendo no abandono. Ninguém queria pegar a criança por medo do casal. Então esperei uma oportunidade para tirar a criança daquele sofrimento. Quando a mãe descuidou, entrei na casa e ‘roubei’ a criança que ainda era um bebê. Levamos imediatamente o menino para o hospital. Lá me pediram documentos, etc e tal. Disse que não tinha e que a criança foi retirada dos pais por conta do abandono. Me informaram que seria necessário chamar a polícia, então retruquei: pode chamar, mas cuida desse menino, ele precisa de ajuda. A criança estava com sarna e tinha até carrapatos. Falei com a polícia, expliquei a situação, fui prestar depoimento no Fórum e tudo ficou bem. No início a mãe falou até em me matar, mas depois passou. Hoje ela agradece o que eu fiz pelo filho dela. Ele está adulto, foi adotado e vive dignamente”, contou Dona Ana que acrescentou que precisou repetir essas atitudes outras vezes em favor das crianças abandonadas.
PÃO PARA FAMÍLIAS
Com a ajuda de voluntários, a bondosa senhora também tenta aliviar a fome de quem precisa. “Quando parei de trabalhar na Casa Assistencial os voluntários do Centro Espírita “Sidney Ferreira da Costa” me fizeram uma proposta: fornecer os ingredientes para fazer pão de segunda a sexta-feira. Eu e a voluntária Hilda Barbosa produzimos cerca de 40 pães por dia que atendem 13 famílias da Vila Guarnieri. As crianças vêm buscar o pão diariamente e levam de acordo com o tamanho da família escolhida por mim com alguns critérios. Selecionamos aquelas em que a mãe é viúva e cria os filhos sozinha, as que foram abandonadas pelos companheiros, aquelas em que as crianças vivem com os avós e também se há alguém doente na casa, etc. As crianças adoram vir buscar o pão todos os dias porque geralmente a mãe está trabalhando. Elas saem da escola, deixam o material em casa e já passam em casa com a sacolinha na mão. Sempre deixamos alguns reservados para ninguém passar vontade”.
“DEUS NOS CAPACITA”
Quando saiu da Casa Assistencial continuou ajudando a entidade em casa, como voluntária. “Caridade é coisa séria. Não tenho celular e só aceito a ajuda de quem vem me procurar trazendo doações. As pessoas às vezes se fecham no seu mundo e desconhecem a necessidade do próprio vizinho. A lição de Deus não foi essa”.
A sabedoria também é uma das qualidades de Dona Ana, que dá um conselho para quem tem o desejo de ajudar as pessoas. “Se desenvolvermos esse dom nunca vamos parar de fazer o bem porque é bom demais. Todo mundo tem problemas, mas se ficarmos pensando neles não saímos do lugar. Viva um dia de cada vez e exercite a mente e o espírito porque Deus nos capacita quando temos esse desejo no coração. Os problemas, com certeza, vão fugir porque não serão mais o centro da sua vida. Pense nisso e comece logo porque existem muitas pessoas precisando de ajuda”, ressaltou Dona Ana que vive com a aposentadoria.
FAZER O BEM SEMPRE
Ela também tem outra missão na vida: suprir a necessidade de várias famílias com a doação de roupas. “As roupas chegam de todos os lugares, distribuímos aqui no bairro e também um voluntário leva para Planura. As roupas até ajudaram os desabrigados de temporal recente em Uberaba-MG. Também recebemos qualquer tipo de material de construção, carrinho de bebê, berço, móveis, sofá, etc. Aceitamos tudo porque sei as necessidades de cada um que me procura. Na maioria das vezes as doações chegam e saem no mesmo dia”. Não vivo sem ajudar o próximo porque isso é muito gratificante e eu sou a maior beneficiada”.
Se a reportagem tocou seu coração e de repente você tem algo a doar, não hesite. Dona Ana mora na Rua 7 nº 388 da Vila Guarnieri e, como ela disse, toda ajuda é muito bem vinda.
A bondade e a caridade movem essa mulher de um coração enorme, que só quer ajudar o próximo.
A rotina de Dona Ana e amiga Hilda começa cedo com a preparação da massa de pão.
As amigas separam roupas doadas que ficam à disposição de quem precisa.
Dona Ana distribui os pães para as crianças na porta de casa.
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