Falsário é preso em flagrante ao tentar se passar por dono de precatório de R$ 58 mil
Tabelião desconfiou da autenticidade de documento e deu um jeito de chamar a polícia sem despertar atenção de golpista
Era por volta das 10h30 do último dia 9 quando um homem acompanhado por mais duas mulheres chegou ao Cartório de Notas e Protestos na esquina do Terminal Rodoviário. O indivíduo, que aparentava estar doente, queria que o funcionário do Cartório fizesse uma procuração pública em nome de uma das mulheres, que dizia ser sua sobrinha, dando-lhe poderes para sacar o valor de R$ 58 mil referente a um precatório alimentar (Precatório é uma ordem de pagamento em que a Fazenda Pública foi condenada em processo judicial). O golpista pediu pressa porque seria internado naquela mesma data para cirurgia e necessitava do documento porque a sobrinha iria assumir os poderes para resgatar o dinheiro. Somente o documento dela, que iria representar o falsário, era verdadeiro.
A atitude chamou a atenção do funcionário Rafael que suspeitou da história porque já rondava nos grupos de tabeliães um alerta sobre esse tipo de golpe. Ele fingiu que estava fazendo a procuração e levou os documentos originais ao tabelião Tiago Barelli, que tem curso de documentoscopia. “Quando bati o olho no documento do homem fiquei muito desconfiado porque apesar da boa impressão não tinha muita qualidade. Já os das mulheres eram muito bons mas, até então, não sabia que eram verdadeiros. Acredito que isso seja uma tática para confundir ainda mais”, destacou Barelli que deu um jeito de sair pelos fundos do Cartório e foi até a delegacia. “Mostrei os documentos para o escrivão e contei a versão do homem que queria outorgar a procuração com urgência. Ele mandou dois policiais civis ao Cartório que pediram ao trio para acompanhá-los até a delegacia, onde o golpista acabou confessando o crime. Ele chegou ao Cartório gemendo, aparentando estar com dor e dificuldade para se levantar, mas quando a polícia chegou todo mal-estar foi embora rapidinho”.
Barelli disse que se não tivesse o curso, que é feito antes de exercerem a profissão, talvez não teria suspeitado. “Caso a procuração fosse dada poderíamos responder pelos danos e até o ressarcimento do valor. Os bandidos estão cada vez mais sofisticados e se especializando em dar golpes”.
Na delegacia foi investigado os dados do verdadeiro dono do precatório verificando-se que na CNH a foto era de outra pessoa. O golpista confessou que foi contratado em um auto posto de Ribeirão Preto, por pessoa desconhecida, para vir até o Cartório de Colina fazer uma procuração no nome da mulher que o iria acompanhar. Ele disse que o contratante pediu uma foto dele e dias depois entregou a identidade falsa com a foto dele. Ele veio a Colina num carro de aplicativo, com a mulher e mais uma acompanhante e que receberia R$ 150,00 pelo serviço. A suposta sobrinha alegou que pelas redes sociais tomou conhecimento de que estariam precisando de uma conta bancária emprestada para recebimento de depósitos. Como estava precisando de dinheiro porque está desempregada fez contato com a pessoa que comunicou que receberia 5% do valor depositado. No poder da outra acompanhante foram apreendidos dois celulares, um deles com várias fotografias de identidades que ela alegou ter recebido há dois dias de um homem que não conhece.
O homem foi preso por uso de documento falso deixando de ser autuado por estelionato que não chegou a ser consumado. Por se tratar de crime inafiançável não foi arbitrada fiança. Após apresentação em audiência de custódia o falsário foi conduzido ao CDP de Taiúva. Contra as duas mulheres não havia nada de ilícito e elas foram liberadas.
PRECONCEITO DE BANDIDO
O golpista, que tem 55 anos e mora em Ribeirão Preto, apresentou a identidade falsificada com os dados verdadeiros do beneficiário, mas com a foto dele. “A ideia era se passar pelo beneficiário para sacar o valor. Desconfiamos que ele seja de Severínia porque o trio apresentou até um comprovante de endereço. De todos documentos apresentados para a elaboração da procuração, somente a identidade do homem era falsa”, revelou o tabelião que ressaltou, “a CNH é mais difícil de ser falsificada já o RG nem tanto. Ainda não presenciamos fraude com o último lançamento (modelo), mas dos anteriores foram desviados muito espelhos verdadeiros”.
Para Tiago os bandidos preferem as cidades menores por acreditar que a prática do crime seja mais fácil. “Eles têm essa crença, ‘preconceito de bandido’, que em municípios pequenos as pessoas são mais inocentes e não estão preparadas para detectar a fraude de imediato”.
Perguntado como os golpistas obtêm a informação sobre os precatórios, o tabelião não soube dizer, mas explicou que tão logo ficam sabendo conseguem uma cópia do documento verdadeiro e providenciam a identidade falsa.
MAIS UMA TENTATIVA
O Cartório já foi alvo de outras tentativas de fraude em procurações, mas este é o primeiro caso que termina com a prisão. “Com receio de que o estelionatário fugisse desta vez agimos com mais cautela”, disse o tabelião que contou que uma pessoa tentou passar uma procuração para a venda de um imóvel em outro estado. “Neste caso a matrícula era verdadeira e o documento de identidade falso. O estelionatário era tão cara de pau que veio no dia em que a juíza estava no Cartório fazendo correição. Quando percebeu que tinha sido descoberto deu no pé”, contou Tiago.
Tiago está à frente do Cartório de Notas e Protestos há mais de dois anos e Colina é a 3ª cidade em que trabalha após a aprovação em concurso de 2016. Ele, que tem 31 anos e é natural de Itápolis, se formou em Direito pela UEL – Universidade Estadual de Londrina.
Filmagem do circuito de segurança mostra o momento em que os investigadores conduzem o falsário e suas comparsas até a delegacia.
Tabelião Tiago Barelli mostra imagem do circuito de segurança quando o falsário e as comparsas são conduzidas à delegacia pelos investigadores.
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