Não é só “mais uma” dor de cabeça
“Eu tenho dor de cabeça, porque...”. Quem nunca ouviu al- guém dizer uma frase dessas para justificar esse tormento à saúde? Pode ser o vinho, a leitura excessiva, o estresse no trabalho e até a chegada da menstruação, no caso das mu- lheres. Muitos são os motivos que as pessoas encontram para explicar suas dores, afastando-se da ajuda médica e arriscan- do o próprio bem-estar.
Estudos indicam que tais fatores podem distanciar o paciente do diagnóstico adequado em oito anos ou mais. Nesse período, o indivíduo corre o risco de intensificar doenças neurológicas gra- víssimas, as quais interferem nos demais aspectos de sua vida.
Um exemplo é a enxaqueca, diferenciada entre os demais ti- pos de cefaleia por ser unilateral (isto é, atinge apenas um lado da cabeça), pulsátil, de forte intensidade e durabilidade, além de piorar com o movimento e com a presença de luz e barulho. Dessa forma, a enxaqueca torna-se limitante no aspec-
to social. Segundo dr. Marcelo Ciciarelli, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), “o paciente tende a procurar repouso em um lugar mais calmo, silencioso e com menos luz. O ambiente de trabalho, na maioria das vezes, não é assim. Os ambientes de lazer, de estudos, também não. Então, a doença acaba tirando a pessoa do convívio social, acadêmico e profissional”.
No caso dos pacientes com enxaqueca crônica, a dificul- dade é maior. Caracterizada pela presença de dor de cabeça em mais de 15 dias por mês, o impacto torna-se quase diário, impossibilitando o indivíduo de muitas atividades.
A falta de conhecimento e a recusa em procurar auxílio médico prejudicam ainda mais a situação. A enxaqueca não deve ser confundida com as dores de cabeças típicas de ou- tras doenças. Ela é uma doença primária, de causa hereditá- ria, marcada pela frequência constante. De acordo com estudos recentes, as únicas patologias aliadas a ela são problemas tão preocupantes quanto, como depressão e ansiedade.
“A enxaqueca afeta todos os domínios da vida. Casos clínicos mostram desde a ausência das crianças na escola até a baixa frequência dos adultos no trabalho. Quando conseguem com- parecer, a produtividade não é a mesma. Isso mostra o impac- to da doença na qualidade de vida”, destaca dr. Ciciarelli.
A maior prevalência se dá, contudo, entre os 20 e 40 anos, na idade mais produtiva. O estresse do dia a dia, os hábitos alimentares nem sempre saudáveis e o consumo de bebidas alcóolicas, por exemplo, ajudam no desencadeamento do quadro em pacientes já predispostos. No caso das mulheres, as chances são ainda maiores, visto que a contínua oscilação de estrogênio no organismo ao longo da vida interfere na dor. Tendo em vista esse cenário, o dr. Ciciarelli incentiva a busca de um especialista e se opõe a automedicação. “Os fatores considerados como causa da dor agem, na verdade, como in- tensificadores do mal-estar. A população, portanto, não deve tentar explicar a dor ou resolvê-la por conta própria, mas bus- car auxílio de um profissional adequado”.
A Associação Paulista de Medicina promoverá o I Curso de Saúde Baseada em Evidências na sede da instituição, localizada em São Paulo. O evento tem duração de quatro sábados consecutivos, com início em 23 de novembro. Entre
9h30 e 12h30 os participantes assistirão duas palestras com temáticas relacionadas à saúde de evidências. A iniciativa tem o intuito de oferecer aos profissionais aperfeiçoamen- tos e treinamento para lidar com dados de pesquisas, apre- sentando ferramentas de auxílio e técnicas de qualificação dos estudos. Para mais informações acesse associacao paulistamedicina.org.br ou ligue (11) 3188-4200
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