A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria 
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz
Às vezes abro a janelaencontro o jasmineiro em flor
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola
Pardais que pulam pelo muro
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. 
Ás vezes, um galo canta
Às vezes, um avião passa
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem
outros que existem diante das minhas janelas, e outros
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles


Postado em 18/04/2015
Por: A Redação
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