Pulverização aérea em canaviais está dizimando abelhas

Produção de mel de apicultor caiu pela metade com perda de colmeias

O inseticida aplicado pelos aviões que sobrevoam os canaviais tem matado as maiores polinizadoras do mundo.

As revoadas de insetos alados como os besouros, que antigamente povoavam as luzes ao anoitecer e a presença dos seus inimigos naturais, os sapos que ficavam à espreita, tornou-se uma cena cada vez mais rara de ser ver.

A natureza dá sinais quando algo não vai bem e cabe a nós decifrá-los. A pulverização aérea de pesticidas no mar de cana por qual estamos cercados tem afetado drasticamente todo o ecossistema, que está em desequilíbrio.

As abelhas, as maiores polinizadoras do mundo, estão sumindo por causa da grande quantidade de veneno que é jogada pelos aviões nos canaviais para matar a cigarrinha, uma das pragas da cultura que dominou a região.

Não se sabe ao certo que tipo de veneno é utilizado, mas as consequências tem sido desastrosas para a natureza. O homem tem sentido os efeitos dessa prática nociva iniciada há cerca de 10 anos quando a cana deixou de ser queimada e os pesticidas entraram em cena.

Para o apicultor José Antônio de Oliveira “Xanga”, 64 anos, existem meios para evitar o extermínio das abelhas e os estragos causados nos pomares, hortas e nas plantações de milho. “Ao invés da pulverização aérea o veneno precisa ser aplicado com o trator que não tem perigo e só atinge a cana, evitando que o inseticida seja espalhado pelo vento”, destacou o apicultor.  

Nos 40 anos que trabalha na colheita de mel pelos apiários espalhados por várias propriedades rurais “Xanga” nunca viu uma devastação como esta, que tem dizimado colônias inteiras de abelhas. “De dez anos para cá perdi mais de 400 colmeias que ficaram vazias. O veneno matou as abelhas e a produção de mel caiu pela metade. Já entreguei vídeos caseiros, gravados por mim, ao Ibama, Secretaria Estadual do Meio Ambiente e até ao governador Geraldo Alckmin, da última vez que esteve em Colina, mostrando a grande quantidade de abelhas mortas e as que sobraram agonizando na boca da caixa após a aplicação dos pesticidas. Até hoje ninguém fez nada e nunca recebi uma resposta sequer”. Salientou, “já presenciei muito passarinho e coruja, que é caçadora noturna, morrerem envenenados por comer insetos contaminados pelo veneno da cana”, comentou Xanga.

Ele informou que as usinas começaram a utilizar um veneno orgânico que dizem não agredir o meio ambiente. “As abelhas morrem na época da pulverização, que é feita quando a cana está crescendo. Além da eliminação da pulverização aérea, outra solução para acabar com o problema seria usar um veneno específico para matar somente o causador da praga que se quer eliminar. Também é preciso mudar o horário de pulverização para depois das 17h, quando as abelhas já estão dentro da colmeia e ficam mais protegidas”.

Toda a renda da família do apicultor vem do mel. “Xanga” hoje tem um sócio e fornece quase tudo que produz a uma empresa de Barretos, que exporta o mel colhido aqui para vários países. “Agora na safra, época da florada, visito as colmeias diariamente para retirar o mel. Os enxames capturados na cidade vão para os apiários no mato, que são os locais apropriados para se criar abelhas”.

PULVERIZAÇÃO AÉREA: DERROCADA FINAL DAS ABELHAS

“Uma infinidade de outras espécies também parece estar em extinção. Se não bastasse uma série de fatores, que tem limitado a população de abelhas, os defensivos agrícolas somaram-se a eles como a derrocada final”, analisou o professor de biologia, Renato Molleiro, que aos 20 anos começou a criar abelhas no sítio pelo simples prazer de conhecê-las.

“Com o passar dos anos passamos a investir na apicultura. Além da potencialização da produção do pomar decorrente da polinização, passamos a ter no mel mais uma fonte de renda. Foram quase três décadas de felicidade... de néctar, aroma de flor de laranjeira e caminhões de frutas cítricas”, contou o professor que ressaltou, “infelizmente, do apogeu se vai à ruína. Nossos laranjais assim como os da região foram comprometidos pela clorose variegada dando início a um novo ciclo da cultura canavieira que por ser nula ou paupérrima como fonte nutricional para as abelhas veio a favorecer a extinção das mesmas, tendo nas pulverizações aéreas o fim decretado”.

“Os canaviais desfiguraram a nossa região em todo local onde se implantaram. Em extensas áreas não se vê outra coisa senão cana... uma cultura inóspita para as abelhas e que se torna ainda mais prejudicial quando nela se aplica inseticidas via aérea”, constatou Renato.

SEM AS ABELHAS PODEMOS MORRER DE FOME

O sumiço das abelhas é geral em todo planeta e tem assumido dimensões diferenciadas em cada país e até mesmo em diferentes regiões. No Brasil, apiários monitorados nos estados de São Paulo e Santa Catarina têm apresentado crescentes índices de perda de enxames.

As consequências deste problema são mais graves do que a falta de mel. “As abelhas foram muito bem projetadas pelo arquiteto da evolução na percepção das flores através do aroma por elas exalado. Na visita que fazem a elas, buscando o pólen e o néctar, exercem o importante papel de agentes polinizadores favorecendo a frutificação e consequente perpetuação de muitas fanerógamas (espécies vegetais que produzem flores) e outros organismos a elas associados”.

CRIAÇÃO NECESSITA DE CUIDADOS

Muitas pessoas estão investindo na criação de abelhas, mas para isso é preciso tomar alguns cuidados. O professor relatou que todo esforço na preservação das abelhas é bem vindo, mas é preciso ter muito cuidado porque estes insetos precisam ser criados em local apropriado, com manejo orientado. A presença em local inadequado, somado às intervenções indevidas, pode gerar acidentes.

O mel que José Oliveira “Xanga” extrai dos seus apiários são vendidos para exportação.

Para o professor Renato Molleiro o ciclo da cultura canavieira favoreceu a extinção das abelhas, tendo nas pulverizações aéreas o fim decretado.

As maiores polinizadoras do mundo estão sumindo com a grande quantidade de veneno que é jogado nos canaviais pelos aviões.


Postado em 16/12/2017
Por: A Redação
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