Produtores rurais reclamam dos prejuízos causados pelo “javaporco” e cobram providências 
 
Os agricultores são verdadeiros “heróis” da paciência e persistência. Além de combater as pragas típicas da lavoura, dependem muito da meteorologia e precisam contar com a sorte na hora de comercializar a colheita
Apesar disso tudo, os produtores rurais da região têm sofrido grande prejuízo nas lavouras de milho, seringueira, mandioca e cana não por causa das pragas  e sim de um intruso, o “javaporco”, uma espécie de  porco selvagem resultante do cruzamento com o javali, animal que não é natural da fauna brasileira e que foi introduzido na natureza pelo homem
Os ataques dos animais deixaram um rastro de destruição nas lavouras de várias regiões do Estado. O javaporco adulto chega a pesar mais de 100 kg e sua caça é crime ambiental
Os produtores Marcelo de Almeida Felício e Luiz Paulo Barcelos não informaram à reportagem o valor dos prejuízos causados nas propriedades, mas relataram que a questão financeira não é o único problema, também existe os danos ao meio ambiente, a interferência na cadeia alimentar, os acidentes de trânsito nas rodovias e o perigo de ataques a humanos
PRODUÇÃO DE MILHO É ABANDONADA 
Luiz Paulo atualmente produz cana e seringueira na Fazenda Paineiras. Ele abandonou a produção de milho depois dos enormes prejuízos causados pelos ataques do javaporco. “Dava vontade de chorar quando chegávamos no milharal, parecia que tinha passado uma boiada sobre a plantação. O milho é o alimento preferido do javaporco, que derruba as plantas e come as espigas. Cheguei a perder 70% da plantação e resolvi deixar de produzir milho”, contou Barcelos.  
Atualmente a única forma de produzir milho é cercar a plantação com tela, mas isso se torna inviável para áreas maiores
“Hoje precisamos pensar muito antes de optar pelo milho para a reforma da cana. Se a lavoura for pequena o produtor não vai colher nada porque o estrago do javaporco é muito grande. Depois dos vários ataques à plantação desistimos da cultura”, ressaltou Marcelo de Felício, que também abandonou o milho e hoje planta cana, seringueira e laranja na Fazenda São José
Na cana também estragos, mas são menores porque o volume é maior e a planta é mais dura. Como o milho está ficando escasso, os “intrusos” estão atacando as seringueiras. “Os prejuízos são grandes nos seringais porque os animais chegam a arrancar as plantas novas e cortam as de até dois anos. Ao roçar nas plantas mais velhas para se coçar ou de encostar os dentes, que ficam para fora e são afiados como faca, os animais adultos acabam machucando a seringueira, estragando o painel e provocando a perda da sangria. As plantas acima de seis meses podem até ser replantadas, mas seu desenvolvimento nunca será igual ao das outras”, esclareceu Marcelo, que também informou que o nível de estrago cresceu muito nos últimos anos, principalmente nos seringais recém-formados.      
As mandiocas também são alvo dos bandos, que chegam a  arrancá-las. “Tínhamos mandioca plantada a uns 10 metros de casa e os animais comeram tudo. Agora tenho que comprar mandioca no mercado. Na fazenda não tem mais milho, nem galinha e ovo porque o javaporco está atrapalhando a cadeia produtiva”, desabafou Barcelos
CRIAÇÃO COMEÇOU EM OLÍMPIA 
Segundo os produtores, os primeiros exemplares de javaporco começaram a ser percebidos nas propriedades a partir de 2006. “A informação que temos é que os primeiros animais escaparam de um cativeiro em Olímpia após uma enchente no Rio Cachoeirinha, que estourou o alambrado do criatório. Como não tem predador natural e a reprodução é muito rápida o bando foi aumentando. Hoje são encontrados a mais de 100 km do local de origem e são inúmeros os bandos”, informou Marcelo. Salientou, “eles estão bem espalhados e cruzaram a rodovia para Jaborandi, onde o registro de bastante estrago, principalmente em seringais. O javaporco é muito rápido, agressivo e tem hábito noturno. De dia você percebe o rastro do estrago que deixaram, quando se deslocam vários quilômetros em busca de comida. Durante o dia ficam escondidos em brejos, no meio do mato ou da cana”
Os animais começaram a ser criados para melhorar a qualidade da carne suína. Também comenta-se que a criação em cativeiro do javali teve por objetivo a legalização da carne para fornecimento a restaurantes diferenciados, onde esse tipo de carne exótica é apreciada. “A difícil adaptação e os gastos exagerados tornaram inviável a criação em cativeiro. Também temos a informação que a criação em Olímpia era para organizar um clube de caça”, disseram os produtores
ENCONTRO COM BANDO 
O hábito de caminhar na fazenda foi deixado de lado pelo agricultor Luiz Paulo depois que teve um encontro com um bando de javaporcos. Ele contou a experiência que, segundo ele, não foi nada agradável. 
“Estava no meio do canavial, passeando com meus cachorros, quando saiu uma porca do meio da cana, muito brava, que tentou morder um dos cães. De repente começou um barulho no meio da plantação que foi aumentando cada vez mais, eram três três porcas com muitos filhotes. A sorte que o bando não veio ao meu encontro. Depois disso não andei mais na fazenda, tenho vindo caminhar na cidade”, relembrou Barcelos.  
DANO AMBIENTAL 
A introdução do javaporco na natureza criou um problema ambiental porque os animais gostam muito de lugares úmidos e removem bastante as APPs (Áreas de Preservação Permanente) em busca de minhocas para alimentar os filhotes. “Na época de escassez de milho e mandioca, fuçam estas áreas, que formam os brejos, para comer minhoca. A área fica tão revolvida que parece um mangueirão de porco ou que passou um trator para arar a terra”, disse Felício. 
Outro problema desencadeado pela superpopulação de javaporco são os vários acidentes nas rodovias causados pelos animais, que atravessam as estradas durante a noite em busca de alimento. Ainda não houve ataques a humanos, mas as pessoas devem ficar atentas e evitar andar na área rural, principalmente no final da tarde. “Os javaporcos se tornam ainda mais agressivos quando estão com filhotes. Quem encontrar um bando deve desviar e nunca enfrentá-los porque um ataque pode ser fatal”, alertam os agricultores. 
PRODUTORES QUEREM SOLUÇÃO 
Os produtores cobraram providências dos órgãos ambientais para o problema e sugerem que a caça seja liberada como forma de diminuir a superpopulação, que aumentou demais e daqui a cinco anos será um problema quase impossível de controlar. “Em alguns países a caça de animais é permitida quando a população aumenta de uma forma desenfreada. A pessoa retira uma licença e pode abater um número permitido de animais”, sugeriu Luiz Paulo, que também disse que “os produtores devem encabeçar um movimento para pedir uma solução para o problema, tudo com respaldo dos órgãos competentes”. 
Para Marcelo de Felício “se o município tem autonomia para expedir licenças ambientais também deveria conseguir meios legais para resolver o problema”. Em algumas cidades do Estado o Ministério Público, que tem como atribuição o meio ambiente, foi acionado para fazer um estudo sobre a quantidade de animais e os prejuízos causados ao meio ambiente. 
O escritório regional do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) em Barretos disse que o problema é antigo e que já recebeu diversas reclamações. Informou também que a questão é de competência do Estado e que a União pode intervir se não for encontrada uma forma de combater o problema
 
Os dentes do javali macho adulto costumam ser maiores do que das fêmeas.
 
Os agricultores Luiz Paulo e Marcelo estão preocupados porque, em poucos anos, o problema pode atingir proporções incontroláveis.
 
 
Caça é descartada pelo Departamento da Fauna 
 
O Departamento da Fauna da Secretaria Estadual do Meio Ambiente descartou a possibilidade de caça aos “javaporcos” sugerida pelo agricultores colinenses como forma de controlar a superpopulação. 
Segundo explicação do DeFau, a Lei de Crimes Ambientais configura como crime o abate de animais silvestres, mesmo exóticos, sem autorização do órgão ambiental competente. A possibilidade de emissão de uma licença de caça é vedada pela Constituição Federal de 1989. Também há as restrições legais ao porte de arma de fogo. “Não se sabe também se a caça seria eficaz porque o número de animais abatidos rapidamente pode ser reposto dada a alta taxa de fertilidade da espécie. Há ainda o risco de serem abatidos animais silvestres, como catetos e queixadas, que poderiam ser confundidos com os javaporcos”, explicou o Departamento. 
Uma das alternativas é que os agricultores se reúnam com órgãos da categoria, como cooperativas ou encaminhem as queixas às autoridades para viabilizar um programa de manejo na região. “A estratégia demanda estudo prévio de modo que não é uma solução a curto prazo. O cercamento, além de oneroso, está descartado já que nem mesmo as cercas elétricas são eficazes”. 
O DeFau não dispõe de dados sobre a ocorrência do “javaporco” nem em Colina e Jaborandi, mas existem relatos da presença do animal em praticamente todas as regiões do Estado e a principal queixa é de danos à produção agrícola. “Os primeiros relatos sobre infestação por javalis e javaporcos no Brasil datam da década de 80. No Estado as ocorrências começaram nos anos 90” 
Os indícios apontam que javalis asselvajados cruzaram a fronteira do Rio Grande do Sul, vindos da Argentina, onde a espécie foi introduzida para fins de caça. Mas, por falta de manejo adequado, a maioria dos animais fugiu de criadouros clandestinos, sem autorização do IBAMA. “Os criadores que deixaram os javaporcos (híbridos entre javalis e porcos domésticos) escaparem para a vida livre são os principais responsável pelo problema”. 
O Ibama, recentemente, procedeu vistoria nos criadouros e foi constatado que a maioria encerrou as atividades, de modo que há pouquíssimos legalizados funcionando no Estado. 

Postado em 08/06/2012
Por: A Redação
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