Data foi criada há 14 anos em alusão à rebelião de produtores rurais brasileiros contra Portugal, que em 1661, proibiu a venda do destilado de cana-de-açúcar.
A cachaça, bebida genuinamente brasileira, é considerada o primeiro destilado das Américas. Dados históricos ditam que a produção começou de forma intencional em um engenho de açúcar do litoral brasileiro, por volta de 1532.
Atualmente, estima-se que o Brasil possui capacidade instalada de produção anual de aproximadamente 1,2 bilhão de litros e gera mais de 600 mil empregos diretos e indiretos. “O Estado de São Paulo é um dos principais produtores, o principal exportador e o maior consumidor do destilado do Brasil”, afirma Elisangela Marques Jeronimo Torres, do Grupo de Estudos da Cadeia da Cachaça de Alambique (GECAA), da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
No último Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária do Estado de São Paulo (Lupa), realizado pela SAA, por meio da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) e do Instituto de Economia Agrícola (IEA), foram identificadas cerca de 412 unidades com alambiques no Estado. Mas, para o coordenador da Câmaras Setoriais da SAA, José Carlos de Faria Junior, esse número é muito maior. “Tem produtor rural que faz cachaça na propriedade, e ainda não conseguiu regularizar a produção. A gente estima que esse número possa ser o dobro”, avalia Faria.
E um incentivo para que esses produtores regularizem sua produção é participar do 1º Concurso Estadual de Qualidade da Cachaça Paulista “Cachaça.SP”, que será lançado este mês, pela Secretaria de Agricultura. “Além de incentivar a cadeia produtiva, o concurso ajuda a gente a dimensionar o tamanho desse mercado e trabalhar por políticas públicas efetivas para apoiar o produtor”, explica o coordenador das Câmaras Setoriais da SAA.
O objetivo do concurso é avaliar, valorizar, divulgar e realizar o resgate cultural da bebida produzida no Estado de São Paulo, visando a sustentabilidade da cadeia produtiva da cachaça paulista, além de estabelecer um importante referencial de qualidade para os consumidores. Vale ressaltar que só poderão participar produtores devidamente regularizados e não serão aceitas amostras que tenham sido adquiridas e ou produzidas em outros estados.
E a disputa não vai ser fácil. A expectativa da organização do concurso, é de que cerca de 200 rótulos sejam avaliados, para eleger as melhores bebidas paulistas, em três diferentes categorias.
A organização do concurso conta com participação de toda a Secretaria de Agricultura, da extensão rural através da CATI, da área de pesquisa com a APTA Regional, Defesa Agropecuária, área de Abastecimento (Codeagro) e de toda a cadeia produtiva que faz parte das Câmaras Setoriais.
E quem já garantiu que vai participar do concurso é o JP Alambique, que produz a tradicional e premiada Cachaça Japi, na Fazenda Nova Era, em Itupeva.
A propriedade, hoje comandada pelo engenheiro agrônomo, Fernando César Tonoli, é a primeira e mais antiga destilaria da região, fundada em 1890. Mas nem sempre a fazenda teve um alambique, o bisavô de Tonoli, que era produtor de café, chegou a transformar a Nova Era em serraria, somente em 1948 o engenho foi reativado e nunca mais parou. “E foi passando de geração em geração. Foi meu avô que encabeçou a produção de cachaça e meu pai tocou o negócio ao lado dele”, explica Fernando.
Depois de se formar, em 2016, Tonoli conta que resolveu se dedicar ao negócio quando o avô, já bem idoso, adoeceu. “Quando eu cheguei aqui, só produzia a branca e a composta com carvalho, que vendia para os bares. E eu comecei a mudar um pouquinho, fui aumentando o portfólio”, revela.
Segundo ele, a clientela do pai, chamada de bebedores de Japi, marca tradicional da JP não vinha se renovando e Tonoli apostou em produtos de maior valor agregado. “A tendência do mercado é beber menos e beber melhor. Meu pai e meu avô criaram um produto muito bom, mas eles nunca tentaram puxar esse apelo mais gourmet”, ressalta.
Para isso, a empresa fez uma releitura da cachaça. “Aí sim, a gente conseguiu agregar valor e aumentar as vendas”, explica Fernando, que hoje produz cerca de 110 mil litros da bebida por ano, resultado da cana colhida nos 10 alqueires da propriedade.
Uma outra aposta da JP para aumentar a renda é o turismo rural. Boa parte da linha premium é vendida na sede do engenho. Atualmente, a loja conta com mais de 100 produtos, entre marcas próprias e terceirizadas.
Ao lado da esposa Rafaela, Fernando Tonoli segue ampliando os negócios família e espera que o filho, que tem apenas seis anos, siga seus passos. “Ele nasceu aqui, meu sonho é que ele queira continuar também.”
Dia da Cachaça
Há 14 anos, um projeto de lei estabeleceu o 13 de setembro como o Dia Nacional da bebida feita de cana-de-açúcar. A escolha da data faz alusão à Revolta da Cachaça, ocorrida em 1661, quando produtores rurais brasileiros se rebelaram contra a decisão de Portugal, que proibia a produção e a comercialização do destilado no Brasil.
Na época, os portugueses notaram que o mercado da bebida típica brasileira crescia e o produto tomava o lugar da bagaceira, típica portuguesa, produzida a partir do bagaço da uva. Além da proibição, o rei de Portugal ameaçava os produtores de deportação, apreensão do produto e destruição dos alambiques. Armados, os revoltosos começaram a saquear residências das autoridades locais. Intolerante com o que ocorria, Salvador de Sá, mobilizou tropas que aniquilaram a revolta.
Em 1661, a Coroa Portuguesa resolveu perdoar todos os envolvidos na revolta e passou a considerar o protesto legítimo. Além disso, o governo lusitano liberou a fabricação no país.
“Quero parabenizar todos os produtores de cachaça e dizer que estamos trabalhando forte para alavancar esse setor e aumentar a produção dos alambiques paulistas, um produto de qualidade e grande gerador de emprego e renda para o Estado”, ressalta Antonio Junqueira, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.