No dia de Pentecostes se renova o prodígio que marcou todos os grandes inícios da História, isto é, o nascimento do mundo, do homem e de Cristo.
Enquanto estavam reunidos com Maria no cenáculo, irrompeu sobre eles o Espírito Santo e o “pequeno rebanho” tornou-se a Igreja, isto é, corpo de Cristo, animado pelo mesmo Espírito que gerou Jesus e o sustentou na sua missão!
O sinal mais visível de que algo de novo acontecera na terra foi a unificação das línguas humanas: os apóstolos, tendo saído, falam uma misteriosa língua nova; ou melhor, falam com novo poder sua língua habitual, de modo que todos os que os escutam – partos, medos, elamitas, gregos ou romanos – os entendem como se falassem sua língua; e todos ficam maravilhados. É um sinal que fez se reencontrar a unidade do gênero humano.
Pentecostes é o oposto à Babel. Os homens rebelando-se contra Deus haviam acabado por não se compreender entre eles; a terra tornara-se o “canteiro que nos torna tão ferozes”, como afirma Dante Alighieri. Agora a dissonância é eliminada; “os povos – diz Santo Irineu – “formam um coro admirável para celebrar nas várias línguas o louvor de Deus, enquanto o Espírito reconduz à unidade as tribos dispersas e oferece ao Pai as primícias de todos os poderes”.
Na Igreja, as pessoas devem se descobrir irmãs; devem poder de novo comunicar entre elas com uma mesma língua, que é a língua do amor ensinada pelo Espírito Santo: ou melhor, “impressa nos corações” pelo Espírito Santo.
O prodígio de Pentecostes continua se renovando hoje. “Se alguém te disser – afirma um autor desconhecido do século VI – “Recebeste o Espírito Santo, por que motivo então não falas em todas as línguas? Deves responder: Certo, falo em todas as línguas, pois sou membro do corpo de Cristo que é a Igreja que fala todas as línguas”.
Ainda hoje a Igreja fala (e compreende) as línguas de todos os povos; ela compreende e valoriza a cultura e o patrimônio de cada povo e cada etnia, e cada povo compreende seu anúncio como próprio, como destinado a si.
Nada, porém, é irreversível e definitivo até que estejamos nesta vida; de irreversível há só a promessa de Deus, enquanto a liberdade do homem não para de tropeçar. A antiga tentação de Babel está sempre à espreita; aparece toda vez que o orgulho turva a inteligência humana e confia sua fria linguagem de morte à linguagem das bombas e das armas. Nós somos testemunhas do que a vaidade e o orgulho humano são capazes de fazer, nesta época onde guerras inúteis condenam à morte milhares de pessoas inocentes e indefesas.
Por isso mais ainda nos reunimos para invocar sobre o mundo inteiro o Espírito Santo, que é o Espírito da reconciliação, de unidade e de paz; o Espírito que no batismo marcou o início de nossa história pessoal de salvação e que agora pode marcar, se o quisermos realmente, o início de uma vida nova em Cristo e na Igreja. Digamos, com fervor: “Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”.
Para a Diocese de Barretos esta solenidade assume um significado especial, pois celebramos a festa do nosso Patrono diocesano, o Divino Espírito Santo. Torne-se mais ardente a nossa súplica e mais eloquente o nosso testemunho de amor, pois assim o nosso Deus é glorificado e tornamo-nos diante do mundo verdadeiras testemunhas do Evangelho.
Dom Milton Kenan Júnior
Bispo de Barretos