Era tarde da noite quando me vi envolto pelo brilho hipnótico da tela, o coração completamente aberto para o que estava por vir. Enquanto assistia ao clipe de “Stairway to Heaven”, vi, lado a lado, os lendários membros do Led Zeppelin – agora sábios e serenos – e o casal Barack Obama, todos unidos numa criação que parecia transcender o racional, repleta de poesia intensa e desafiadora.
A melodia me revelou que a vida não se limita a um único destino. Não existe “um propósito” para todos. Cada acorde despertava em mim a infinidade de significados da criatividade: Bach, Michelangelo, Da Vinci, Vila-Lobos, Beatles, Adoniran Barbosa e tantos outros grandes mestres – escolha o seu preferido – surgiam como guias numa galeria universal de possibilidades. Cada obra, um testemunho de que a existência é um emaranhado de caminhos infinitos.
Com o passar dos anos, sinto ter honrado meus propósitos, percorrido meus trajetos, influenciado por meus genes, antepassados e por aqueles que cruzaram minha jornada. Cada um deles, com seu próprio brilho, ajudou a compor minha história. Escolhi e fui escolhido.
A homenagem aos músicos do Led Zeppelin era um tributo à vida, ao esforço, ao mérito conquistado na trajetória. Ainda assim, todos nós, famosos ou anônimos, temos dentro de nós uma narrativa íntima, bela e triste, mas inestimável.
Em “Stairway to Heaven”, a imagem da mulher comprando sua escada rumo ao paraíso ressoou fundo em mim, simbolizando nossa busca constante por significado, paz e beleza. Cada degrau, um instante vivido intensamente.
Talvez um pouco embriagado por tantas emoções, recordei “Nothing Else Matters”, do Metallica. Nesse ponto, “encontrar um lugar” não diz respeito a um espaço físico, mas a um estado de ser em que tudo o que é supérfluo se desvanece. E ali, em silêncio, percebi que, tal qual essas músicas, a vida é também sobre encontrar esse refúgio interno, onde apenas o essencial floresce.
Se existe um Criador, Ele estava ali presente, livre, escolhendo com quem cantar, regendo uma sinfonia cósmica em que cada nota evoca liberdade e celebra a própria existência. Num lampejo de ousadia, pensei: talvez Ele também busque Seu propósito através de nós.
Um Criador assim não seria moldado por convenções nem por aparências; seria simplesmente justo e verdadeiro, valorizando a profundidade em vez da forma. Perdoem-me os que ostentam uma feiura interior: que busquem o conteúdo, pois, na ampla liberdade da vida, o valor real reside na essência de cada um e no esforço por expressar nosso propósito.
E assim, no quieto da noite, continuei ouvindo a música, sentindo que cada nota era um lembrete de que somos parte de uma imensa e bela sinfonia, na qual cada indivíduo tem sua melodia única, indispensável para a harmonia do todo.
Dr. José Reynaldo W. de Almeida
Neurocirurgia e Neurologia
CRM: 28475
RQE: 20057 / 20159