Por Dom Milton Kenan Júnior, Bispo de Barretos
A atitude de Jesus em relação aos pecadores, entre eles cobradores de impostos e prostitutas sempre despertou mal-estar naqueles que no seu tempo se orgulhavam da sua boa conduta e da pureza da sua fé. O evangelho deste domingo (LC 15, 1-3.11-32) nos diz que fariseus e doutores da lei ficavam muito incomodados com a atitude benevolente de Jesus com os pecadores. Para que eles compreendessem a razão que o levava a acolher os pecadores Jesus lhes conta a parábola da misericórdia. Uma única parábola com três cenas diferentes: a do pastor que abandona o rebanho no deserto e vai a procura da ovelha que se extraviou, da mulher que vasculha a casa para encontrar a moeda perdida, e a do pai que faz festa quando recebe em casa o filho mais jovem que volta, depois de ter abandonado seu lar, partindo para uma terra distante. Na liturgia deste domingo também chamado “Laetare”, ou seja, de júbilo ou alegria temos diante de nós a terceira parte da parábola que nos fala do pai que não hesitou em colocar sua reputação em risco quando corre para acolher o filho que volta de uma terra distante, abatido, depois de esbanjar seus bens; mas, também para convencer o filho mais velho a entrar em casa para participar da festa que havia organizado para acolher o seu irmão que estava perdido e foi encontrado. A intenção de Jesus é ressaltar a atitude desconcertante do pai. No mundo antigo, sobretudo no Oriente, era sinal de autoridade o caminhar lento e majestático; jamais alguém que estivesse investido de autoridade se atrevia a correr; sobretudo, no caso da parábola, um pai que havia sido desprezado pelo filho correria para recebê-lo em casa depois de ter esbanjado seus bens numa vida desenfreada. O pai da parábola faz justamente isso. Mas não só corre em direção do filho mais jovem, como do filho mais velho que sempre ficou em casa e se orgulhava por ter sido um fiel trabalhador, ajudando o pai a cuidar dos seus bens, para convencê-lo a participar da alegria da volta do seu irmão. Aquele filho mais velho era a imagem dos fariseus e doutores da Lei que se indignavam com a atitude de Jesus diante dos pecadores. A parábola é um convite a adotar a atitude do pai com seus filhos: benevolente e cheio de misericórdia. Não se trata de aceitar o pecado, mas amar o pecador; nem desculpar o erro, mas permitir aos que erram a possibilidade de recomeçar, mesmo que seja já a sétima vez que fazemos assim. Nesta caminhada quaresmal somos convidados a redescobrir a beleza da misericórdia. Se ouvirmos essa parábola como mero ouvintes não entenderemos nada do que ela transmite; mas, se a escutarmos com o coração, poderemos chorar de alegria e gratidão. Sentiremos que Deus é Alguém que nos acolhe e nos perdoa, porque só quer a nossa alegria!

