Coluna Mais Saúde

O que é infertilidade e por que está crescendo?

Dr. Celso Brito Júnior
CRM: 64981 | RQE: 71518

A infertilidade feminina é definida como a ausência de gravidez após 12 meses de tentativas regulares, sem contracepção, e afeta cerca de 15% dos casais brasileiros. Segundo dados recentes da FEBRASGO (2023), mais de 8 milhões de mulheres vivem com alguma forma de disfunção reprodutiva no país. O avanço da idade materna, o estilo de vida urbano, doenças ginecológicas complexas e desigualdades no acesso à saúde estão entre os principais fatores de risco.
Causas mais comuns e seus tratamentos

  1. Síndrome dos Ovários
    Policísticos (SOP)
    Causa: Disfunção ovulatória, excesso de andrógenos, resistência insulínica.
    Tratamento: Mudança no estilo de vida, uso de indutores de ovulação (como letrozol e citrato de clomifeno), e FIV em casos refratários.
  2. Endometriose
    Causa: Inflamação pélvica crônica com distorção anatômica e comprometimento da qualidade oocitária.
    Tratamento: Laparoscopia com excisão de lesões, agonistas de GnRH, preservação de embriões ou óvulos e FIV personalizada.
  3. Obstruções tubárias
    (hidrossalpinge, DIP)
    Diagnóstico: Histerossalpingografia ou videolaparoscopia.
    Tratamento: Salpingectomia em casos severos antes da FIV, ou correção cirúrgica se indicado.
  4. Alterações uterinas
    Exemplos: Miomas submucosos, pólipos, septos uterinos, sinéquias.
    Tratamento: Cirurgia por histeroscopia e preparo endometrial com estrogênio e progesterona.
  5. Idade materna avançada (>35 anos)
    Efeitos: Queda de reserva ovariana, baixa qualidade oocitária, aumento de aneuploidias.
    Tratamento: FIV com protocolos POSEIDON, acúmulo de oócitos, uso de duplo trigger, teste genético pré-implantacional (PGT-A).
  6. Fatores imunológicos
    e genéticos
    Exemplos: SAF, trombofilias, falhas de implantação, alterações no cariótipo.
    Tratamento: Anticoagulação, corticoterapia, terapia imunomoduladora e análise da janela de implantação (ERA).

Tecnologias reprodutivas: da personalização à precisão
Nos últimos cinco anos, centros como o Hospital das Clínicas da USP e o Centro Brasileiro de Fertilização Assistida implementaram avanços importantes em biotecnologias reprodutivas, como:
Testes genéticos embrionários (PGT-A): para detecção de aneuploidias.
Vitrificação de óvulos: preservação da fertilidade em mulheres jovens ou com doenças como endometriose.
Classificação POSEIDON: para ajustar protocolos em mulheres com baixa resposta ovariana.
Dado importante: entre 2021 e 2024, a taxa de nascidos vivos por embrião transferido aumentou mais de 40% em mulheres com mais de 38 anos quando o PGT-A foi aplicado (dados do Centro Brasileiro de Fertilidade).

Referências
FEBRASGO. Manual de condutas em infertilidade feminina. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 2023.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Faculdade de Medicina. Departamento de Ginecologia. Estudos e protocolos clínicos em infertilidade feminina: revisão e avanços. São Paulo: FMUSP, 2022.
CENTRO BRASILEIRO DE FERTILIZAÇÃO ASSISTIDA. Relatório técnico sobre reprodução assistida no Brasil (2020–2024). São Paulo, 2024.
ALMEIDA, V. C. et al. Perfil clínico e resposta à estimulação ovariana em mulheres com baixa reserva. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 45, n. 1, p. 12-21, 2023.
FERREIRA, R. M.; BRAGA, D. P. A. F. Impacto da idade materna e do PGT-A nas taxas de sucesso da FIV. Journal of Assisted Reproduction and Genetics, v. 39, n. 2, p. 105-115, 2022.