Palavra de Fé

Por que Deus permite o sofrimento no mundo?

Estamos assistindo com tristeza os acontecimentos da atualidade, guerras, enchentes, fome, injustiças e tantas crueldades mais, o cenário é apocalíptico e muitas vezes somos levados a pensar se já não estamos no fim dos tempos ou ainda, questionar como pode um Deus todo amoroso e todo poderoso permitir o sofrimento na Terra? Será que Deus não pode intervir e criar um mundo onde não existe sofrimento? Será que Ele não pode eliminar a dor?

Esta é uma pergunta difícil e também muito comum. Tentando responder aos olhos da fé temos de recordar a origem do plano de Deus e afirmar que ao nos dar a vida e liberdade, para não se contradizer, Deus precisa provar que o caminho do pecado só leva ao sofrimento a curto, médio e longo prazo.

Para começar, a Bíblia nos fala que Deus fez um mundo sem sofrimento. Este foi o céu e a terra, antes da queda. Todos os anjos e tudo o que tinha sido criado vivia em harmonia com Deus. Havia paz, alegria, perfeição. Tal como Deus quis que fosse.

No entanto, Satanás, um dos anjos, escolheu ir contra isso e fazer o seu próprio caminho imaginando que ele poderia ser igual ou melhor do que Deus. Este foi o primeiro pecado, causando a separação entre Deus e Satanás. O caminho de Satanás estava fora da bênção de Deus.

O livro de Gênesis nos fala que a criação de Deus foi perfeita. Adão e Eva, os primeiros povos, receberam uma vontade livre, eles eram puros e, portanto, tinham contato direto com Deus. Satanás estava cheio de inveja e queria destruir esta harmonia. Era da sua opinião de que, dada a escolha, as pessoas preferem o pecado do que obedecer a Deus. Deus poderia ter simplesmente o calado, ou até mesmo o forçado a mudar de ideia, mas Deus não se contradiz, Ele tem respeito pelo dom do livre arbítrio que nos confiou. Então, ao invés de forçar Satanás voltar para a luz, Deus quis provar para ele e para as demais criaturas que o caminho do pecado só levaria ao sofrimento.

Quando Deus criou a terra, sua intenção era de que seria uma extensão da paz e da harmonia dos céus. No entanto, à Satanás foi permitido o acesso à terra, e ele tentou Eva no Jardim do Éden. Tudo o que Deus quer é que as pessoas sejam felizes e Ele sabia que a única maneira para eles serem felizes era e é pela livre escolha/obediência. Infelizmente, Eva tentada por Satanás, preferiu acreditar nele e convenceu Adão a fazer o mesmo. Deus por sua vez, respeitou essa má escolha e deixou Adão e Eva colherem as consequências de sua escolha.

Todo o sofrimento, toda a dor, e cada lágrima que foi derramada sobre a terra ou é um resultado direto ou indireto do pecado pessoal, social ou estrutural. Mesmo desastres naturais acontecem porque o mundo foi contaminado como nos diz a carta aos Romanos 8,20-21. O pecado contaminou tudo. E tornou-se cada vez pior com o passar do tempo. Quando uma pessoa peca, ela escolheu sofrimento, aqueles ao redor dela sofrem, a terra em si sofre. Isso não foi por causa de um Deus vingativo, um juiz punitivo, mas um resultado natural das leis que Deus tinha feito muito antes de ter criado a terra. Ele sabia que pecar trazia sofrimento. É por isso que Ele nos orienta através da Palavra, dos Mandamentos, das profecias e sobretudo através do testemunho de Cristo e do Espírito Santo a não escolher o pecado.

Mas se Deus é todo poderoso por que não faz nada para parar o sofrimento? Deus poderia intervir a qualquer momento e parar o sofrimento! Como muitas vezes faz através de curas e milagres que passageiramente nos trazem alívio, consolo e esperança. Mas se ele fizesse isso de forma arbitraria, nunca provaria sem sombra de dúvidas, que Satanás estava errado, que pecado causa o sofrimento. Deus sabe disso e o Diabo também! Agora, Deus quer provar isso para toda a criação.

 O objetivo final de Deus é parar todo o sofrimento para a eternidade. Ele quer que toda criação permaneça junto dele em perfeita harmonia como era no início. Mas desta vez Ele precisa ter certeza de que ninguém pode trazer o pecado para a nova criação. É por isso que Ele precisa ser capaz de mostrar, sem qualquer sombra de dúvida, que é o pecado fruto da má escolha que sozinho leva à miséria e sofrimento.

E qual é o propósito de Deus para com sua criação? “Sua intenção é que agora, mediante a igreja, sua multiforme sabedoria se torne conhecida dos poderes e autoridades nas regiões celestiais, de acordo com o seu eterno plano que ele realizou em Cristo Jesus, nosso Senhor “. (Efésios 3,8-11)

A intenção de Deus não é só provar que pecado traz sofrimento. Mais importante é provar que a vida sem pecado traz alegria, paz e harmonia. E para eliminar o pecado do mundo só uma infalível prova de amor: a doação do próprio Filho. Talvez você se pergunte e porque não a de Si mesmo? Porque Deus sabe que não existe sofrimento maior que a dor da perda de um filho! Quantos pais e mães já não passaram por isso…

Este é o resumo do plano de Deus com a humanidade, o golpe final para erradicar contra Satanás. Pois, enviando seu próprio Filho à terra como um homem, Deus foi capaz de provar de uma vez por todas que era possível vencer Satanás e suas tentações. E como ser humano, Jesus foi tentado de todas as maneiras como nós somos tentados, mas em todas as circunstâncias escolheu por fazer a vontade de Deus, em vez da própria, por isso, Ele nunca cometeu pecado. (Hebreus 4,15; 5,7-9)

Com seu ato de amor extremo na Cruz. Ao ser ali traído, abandonado, injustiçado, castigado, rejeitado, negado, etc. Ele fez, que a vitória sobre o pecado devolvesse para os que o imitam a verdadeira, alegria e paz eternas.

Todo mundo sofre! E o sofrimento que uma pessoa passa na terra não é necessariamente proporcional à quantidade de pecados que cometeram. No entanto, os discípulos de Jesus Cristo, servos de Deus, sabem usar este sofrimento para sua vantagem.

Muitas vezes somos possuídos pelo Diabo, sabe quando? Quando agimos como ele, isto é, de acordo com o mal!

Na primeira carta de São Pedro 4,1 lemos: “Portanto, uma vez que Cristo sofreu por nós na carne, armai-vos também vós deste mesmo pensamento, pois aquele que sofreu na carne já cessou do pecado”. O sofrimento físico em si, obviamente, não faz pôr fim ao pecado. Pelo contrário, quando as pessoas experimentam dor, perda e tragédia, o pecado dentro de si manifesta e eles são tentados a se sentir ainda mais desanimados, irritados, amargos. Mas um discípulo faz o que seu Mestre, Jesus fez: ele eleva essas dores e pensamentos a Deus e nega-lhes, e assim, ao oferecer sua dor a Deus na firme confiança invés de vingança ou qualquer outro mal que possa realizar ou revidar, um pouco de seu pecado morre, pois, ao negar a carne para realizar seus desejos é o mesmo que negar a sua auto vontade, e isso é doloroso. Mas foi exatamente assim que Jesus fez quando Ele estava na terra, pois, é só com essa resposta, ou seja, agindo dessa maneira, que o pecado é vencido, e é substituído por virtude.

Mas e quanto ao fim? “E, em seguida, haverá um ajuste de contas”. O juízo final! Deus teve que assistir a Sua criação sofrer ano após ano, século após século. Esperando com paciência para que as pessoas se voltassem livremente para Ele. Mas, finalmente, o momento para a paz chegará. Depois de tudo dito e feito, Satanás será lançado no mar de fogo e todo o sofrimento, toda a dor, toda a miséria terá desaparecido para sempre.

Se por livre escolha e atitudes formos obedientes à vontade de Deus, em vez de nossa própria vontade que está manchada pelo pecado, estamos do lado de Deus e prestativos na realização de Seu plano

 O que posso fazer? É difícil sentar e assistir o sofrimento propagado por todo o mundo e não saber o que fazer! Lembre-se aqueles que são fiéis a Deus tem o poder e a responsabilidade de aliviar o sofrimento e tornar o mundo um lugar um pouco melhor. Por isso, jesus nos ensinou usar três exercícios para enfrentar os ídolos que causam o mal no mundo: Caridade; Oração e Jejum que significa privar-se do pecado.

A Caridade porque além de ajudar com tudo que temos e somos aqueles que mais necessitam, nós podemos ser uma bênção para aqueles que nos rodeiam por negar o pecado que tão de perto nos tenta, e que provoca discórdia e infelicidade. Quando estamos inclinados a responder de volta o mal que nos fizerem com palavras duras, podemos “matar” respondendo suavemente e gentilmente. Quando somos tentados ao egoísmo, podemos praticar a generosidade. Quando vemos a injustiça e a crueldade, podemos praticar a justiça e compaixão, etc. Se buscarmos praticar os 10 Mandamentos que Jesus resumiu em dois, muito mais “santo” será nosso modo de viver.

Nós também podemos Orar, pois “A oração eficaz fervorosa de um justo pode muito!” (Tg 5,16). A oração é uma tremenda arma contra as trevas deste mundo. Nossas orações também têm o poder de ajudar. Podemos orar pela cura, orar por misericórdia, orar para os pobres, para os necessitados, orar por líderes mundiais e governos, rezar pedindo por luz, vida e misericórdia para vir ao mundo, tanto quanto possível. Deus ouve essas orações.

Nós podemos ainda praticar o Jejum, isto é, a mortificação, pois quanto mais vivermos por justiça, quanto mais condenarmos à morte o nosso próprio pecado, quanto mais lutarmos contra a escuridão, quanto mais humanos e justos nos tornarmos cuidando com amor, misericórdia e compaixão de toda obra da criação tanto mais estaremos praticando o jejum que agrada a Deus e vence o mal.

E então será o fim ou começo: Esse dia está chegando em breve, o dia em que Jesus vai voltar, pronto para buscar Sua noiva, a Igreja. E então vem o grande final. Satanás será amarrado e jogado no lago de fogo para sempre (Ap 20,10). Nunca mais ele vai ser capaz de seduzir as pessoas a seguir o seu caminho e causar miséria e sofrimento. Então, Deus vai finalmente ser capaz de criar um novo céu e uma nova terra em perfeita paz, alegria e harmonia para toda a eternidade. Nenhum grito, nenhuma lágrima, nem tristeza. Nenhuma tentação, nenhum pecado, nenhuma discórdia, nenhum conflito ou desobediência. Vamos viver juntos com Deus, seus anjos e os seus santos. Nem um pingo de sofrimento irá existir novamente. Finalmente, e para sempre, tudo ficará bem! Amém!

Pe. Padre Luis Paulo Soares;

Paróquia Santa Ana e São Joaquim de Barretos