Carpinteiro é o maior doador do mobiliário do Muse Municipal
Uma triste notícia foi compartilhada nas redes sociais no último dia 7, a morte do colinense Nicola Gonçalves, o maior doador do mobiliário do Museu Municipal que nunca esqueceu as raízes. Durante toda a vida ele vinha de São Carlos, onde residia, para matar saudades da terra natal e praticar a benemerência que sempre o acompanhou.
A morte aconteceu no Hospital Escola, em São Carlos, onde estava internado há quase uma semana em decorrência de um quadro de pneumonia, que não foi possível ser revertido causando sua morte aos 95 anos. O sepultamento, na tarde do último dia 8, aconteceu no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, em São Carlos.
A reportagem entrou em contato com a filha mais velha de Nicola, Maria Regina, que gentilmente passou informações da biografia do pai, que exerceu o ofício de carpinteiro a vida inteira. “Meu pai gostava de ser chamado de carpinteiro, não de marceneiro. Era apaixonado pela profissão e se orgulhava das obras feitas pelas próprias mãos. Uma das mais apreciadas por ele, sem dúvida, é o forro da igreja São Benedito, em São Carlos, que é espetacular”, afirmou Maria Regina. Este semanário contou também com a contribuição valorosa de Angelita Corrêa, recepcionista do Museu.
A BIOGRAFIA
Nicola nasceu em Colina em julho de 1929 onde passou toda a infância e o início da adolescência. Ele aprendeu a carpintaria com o pai e, em 1943, foi com ele a São Carlos realizar serviço em uma fazenda e lá a família fixou residência. Contam que Nicola mudou-se contra a vontade porque não queria ir embora de Colina.
Ele permaneceu em São Carlos e se casou com a esposa Antonieta, falecida há 25 anos, com tem teve os oito filhos: Maria Regina (colaborada da reportagem), Paulo Sérgio, Luciano, Cecília, Antônio Carlos, Mário, José Mauro e a caçula Ana Lúcia.
A esposa era parceira nas inúmeras vindas a Colina no Aero Willis, uma raridade de 1960, de cor azul, que era reconhecido de longe. Quem via o carro sabia que Nicola estava em Colina. “Meu pai amava a terra natal e toda vez que dava vontade ele e minha mãe iam para Colina no carro antigo, que era seu xodó. Ele queria muito retornar a Colina, mas infelizmente devido a limitação dele não conseguimos levá-lo. Adorava o Museu de Colina, confeccionou e doou várias peças e expositores integrados ao acervo”, contou a filha. Além do Museu, parada obrigatória, o carpinteiro visitava quase todas as entidades, cemitério, almoçava no Restaurante da Elvira, visitava o comércio e a Padaria Central.
“Devido a um tombo meu pai precisou utilizar uma bengala para se locomover e com receio de se cair novamente abandonou a oficina, deixando de trabalhar aos 89 anos, mas até o último dia de vida estava com a memória perfeita. Tinha consciência de tudo”, revelou Maria Regina.
BENEMERÊNCIA E LIVROS
Toda vez que vinha a Colina o carpinteiro fazia doações de bengalas e pares de muletas às entidades. A família informou que ao longo da vida Nicola fabricou cerca de 10.000 pares de muletas e mais de 4.000 mil bengalas doadas a quem necessitava porque tinha o dom de ajudar as pessoas.
Outra paixão era a escrita e muitas histórias relacionadas a Colina foram eternizadas nos livros que escreveu. Dentre os 10 títulos de sua autoria estão: “Uma inesquecível Viagem de Trem de Ferro e Outras Histórias”, “Crônicas da Cidade de Colina”, Histórias que o Povo Guardou”, “Recordar é Viver”, “O Quintal de Minha Casa”, “Coletânea de crônicas escolhidas, vivenciadas pelo Autor”, “Lembranças Esparsas”, etc.
NOTA DE PESAR
A Secretaria de Educação/Cultura divulgou nas redes sociais nota de pesar lamentando o falecimento do carpinteiro e escritor, grande apreciador e colaborador do acervo do Museu Municipal. O texto ressalta a memória de Nicola Gonçalves, imortalizada no acervo mobiliário que confeccionou em sua própria carpintaria e doou ao Museu.
Dentre as peças recebidas pelo Museu do carpinteiro estão um armário grande com portas de vidro, banco de madeira com pés de ferro em formato de cavalos, 6 expositores detalhados em madeira, 9 mesas de imbuia, 10 cavaletes para exposições fotográficas, aparador, 4 expositores de fórmica branca. Também doou peças antigas: bule esmaltado da década de 1950, máquina de mão de costura e um moinho de café.
Trecho da nota destaca: “Seu espírito benemerente e coração altruísta também serão lembrados com muita gratidão pelas entidades colinenses com as quais sempre se preocupou, dedicou atenção e colaborou com suas doações. Sua falta será sentida por nós, colinenses, com respeito, gratidão, carinho e reverência”.
Cerca de um mês antes da sua morte, Nicola foi agraciado com uma importante homenagem, que muito alegrou seu coração. Passou a integrar a cadeira nº 25 da Academia Literária de São Carlos.