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Lago está secando e é possível até caminhar no leito de um dos cartões postais da cidade

É isso mesmo, para quem passa pela avenida que margeia o Parque Débora Paro é impossível não notar que a água tem diminuído dia a dia, dando espaço para as porções secas que estão crescendo, tornando o lago cada vez menor. Em muitos pontos, antes inundados de água, é possível até caminhar no leito do lago, que é um dos cartões postais da cidade.

O fato tem causado surpresa para muitos colinenses que nunca viram o lago tão seco como agora, nem mesmo na crise hídrica que assolou o Estado entre os anos de 2014 e 2015.

A reportagem esteve no local e conversou com alguns pescadores e com Paulo Cabriteiro, que tem por hábito apanhar o mato que cresce nas laterais do lago para alimentar os cavalos. Ele disse que já viu muito peixe morto desde que o canal que abastece o lago secou há quase um mês. “De manhã os urubus e outros pássaros fazem a festa com os peixes mortos que aparecem todos os dias”, disse Paulo que atribui a seca do lago à estiagem prolongada. “Este ano choveu pouco e o inverno foi mais rigoroso, o que aumenta o clima seco que afeta diretamente à natureza que não tem como se defender a não ser esperar pela chuva, prevista pela meteorologia para o mês de outubro”, disse.

Mas quem pensa que está sendo fácil pescar por ali se engana. Os pescadores entrevistados disseram que os peixes fazem mais força para buscar oxigênio ficando mais cansados, o que acaba prejudicando a pesca.  Apesar disso, eles continuam insistindo. Um deles relacionou a situação à perfuração de novos poços artesianos pela cidade que secaram a nascente que abastece o lago. Ele até se referiu a um causo antigo da mina que ficava embaixo da igreja matriz. Esses relatos são de pessoas que teriam caminhado dentro da tubulação nas obras que colocaram fim ao temido “buracão” e que deram origem ao Parque Débora Paro.

DIMINUIÇÃO DO VOLUME DE ÁGUA É GRADATIVA

A reportagem procurou o prefeito Dieb que explicou que a diminuição da água do lago vem ocorrendo gradativamente. “Estamos vivendo um ano atípico e, além da estiagem prolongada, o lençol freático está baixo, exatamente por conta da forte seca que vem afetando todo o Brasil, que vive a pior crise hídrica dos últimos 90 anos com reservatórios baixos, com reflexos em toda economia, principalmente no aumento do preço da energia elétrica, de alimentos, etc. Na nossa região não é diferente, temos vários rios secando como, por exemplo, o Rio Grande. Isso não é um problema local. Não há como brigar com a natureza”,  salientou o prefeito que ressaltou: “A nascente que abastece o lago vem secando com a seca prolongada. No entanto o lago é formado, em sua maioria, pelas águas da chuva. Ele foi projetado para reter as águas pluviais, quebrando a intensidade das enxurradas”.

Ele contestou a informação de que os poços perfurados teriam secado a nascente que abastece o lago. “Os poços não interferem no nível e volume das nascentes, pois o nível de captação é acima de 100 metros de profundidade. Todos poços perfurados no município atendem critérios técnicos e foram aprovados e regulamentos pelos órgãos competentes”.

Dieb concluiu dizendo que a prefeitura está tomando todas providências para o desassoreamento do lago e preservação deste que é um dos cartões postais da cidade. “Há 4 anos a prefeitura apresentou projeto junto aos governos federal e estadual para obtenção de recursos para o desassoreamento e estamos aguardando. No entanto, a Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente solicitou com urgência o desassoreamento do lago, aproveitando o momento apropriado para execução deste trabalho. A solicitação foi atendida de imediato, elaboramos projeto de lei encaminhado à Câmara, com pedido de urgência para suplementação de verbas necessárias para a contratação de empresa especializada através de processo licitatório para realizar o desassoreamento, limpeza e adequação do lago”.

O TEMIDO BURACÃO

Há muitas histórias sobre esse fato a mais conhecida é a lenda que o imenso buraco, causado por uma terrível erosão, engoliria a cidade. A escritora Syria Drubi descreve em seu livro “Colina Capital Nacional do Cavalo” que o italiano José Fabri veio a Colina a convite do Cel. José Venâncio e construiu a 1ª casa na região do “Vale do Buracão”, onde tinha várias nascentes. Na região central da cidade surgiu a praça e a capela, onde hoje está a igreja matriz. As progressivas erosões foram se tornando ameaçadoras, a tal ponto que surgiram lendas sobre pragas e outros mitos. E, ser prefeito na cidade significava encarar o desafio do “Buracão” que crescia devorando casas.

Na gestão do prefeito Pio de Mello Nogueira (1952/56) teve início o desafio de dar um basta ao problema. Na ocasião via-se uma grande movimentação humana drenando nascentes e conduzindo os mananciais em galerias de cerca de 200 metros. Depois vieram outras galerias e se pôs fim ao temido buracão.

Mais recentemente, nos anos 80, na gestão Assad Antônio Daher “Tô”, teve início as obras do Parque Débora Paro que transformou o local em um ponto de encontro dos colinenses.

CRISE HÍDRICA Um comitê de órgãos do governo federal emitiu, pela primeira vez na história, um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro deste ano em cinco estados brasileiros, inclusive São Paulo, que enfrentam o que já é considerada a pior seca em 91 anos.  De acordo com especialistas três fenômenos explicam a falta de chuvas no país: o desmatamento da Amazônia, o aquecimento global e o fenômeno La Niña.